segunda-feira, 18 de setembro de 2006

37) Vacina anticárie: Pesquisa inédita estuda a diminuição de bactéria causadora de cárie em bebês

Será que o sistema imunológico do bebê brasileiro é mais prematuro em comparação ao dos de outros países? Essa indagação foi um dos motivadores para que pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolvessem pesquisa inédita sobre a Streptococcus mutans, principal bactéria causadora de cárie em bebês até um ano de idade.
Os estudos relacionam-se a causa da proliferação da bactéria que provoca a cárie e incluem pesquisa sobre vacina anticárie. Nos Estados Unidos, destaca Ruchele Dias Nogueira, doutoranda em Microbiologia e Imunologia da FOP/Unicamp, que defende tese sobre o assunto em outubro, a maior propensão dessa bactéria na cavidade bucal somente aparece a partir dos 19 meses de idade. Para saber o fator da propensão aparecer antes dessa idade no Brasil, os pesquisadores acompanharam durante 18 meses, 160 bebês na faixa etária de cinco a 13 meses, de 28 creches públicas de Piracicaba. "O motivo é que os nossos bebês consomem mais açúcar nessa faixa etária e muitas mães desconsideram a importância da higienização bucal nos bebês, o que é um problema cultural", explica a doutoranda.
A pesquisa da FOP/Unicamp mostrou que crianças com apenas um ano de idade, que entram em contato com Streptococcus mutans, possuem anticorpos capazes de interferirem na colonização por esta bactéria. A presença de anticorpos específicos, nas salivas, contra a GbpB - proteína importante para a colonização por Streptococcus - pode reduzir as chances de infecção da cavidade bucal pela bactéria.
O acompanhamento dos bebês acorreu a cada seis meses ao longo de um ano e meio. "Na primeira visita, dos 160, 20% apresentaram a bactéria na boca", ressalta Ruchele. Os 160 bebês acompanhados foram divididos em dois grupos de comparação, o de crianças com a bactéria e sem a Streptococcus. A maioria que não apresentou níveis detectáveis de bactéria era portadora de grandes quantidades de anticorpos específicos para a GpbB na saliva, enquanto que crianças precocemente infectadas por esta bactéria não apresentavam esses anticorpos específicos.
"Embora o percentual de bebês com a bactéria tenha sido baixo é preocupante saber que eles podem ter cárie prematuramente, o que acelera a perda dos dentes", analisa a doutoranda. O estudo indica boas perspectivas para o desenvolvimento da vacina anticárie. Com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), da Prefeitura de Piracicaba e participação da doutoranda Alessandra Castro Alves, que estuda as características genéticas dos microrganismos isolados dessas crianças e seus mecanismos de transmissão, a pesquisa comprovou a ação da vacina em animais.
Com a indução em animais da produção de anticorpos contra a proteína GbpB, houve a redução da colonização pela bactéria e o controle do desenvolvimento da cárie. A tese é orientada pela professora Renata de Oliveira Mattos Graner e teve parte dos resultados publicados na Infection and Immunity, revista internacional de microbiologia e imunologia. Para ser aplicada em humanos, a vacina depende de maior período de estudos.
CULTURAL - Segundo a doutoranda Ruchele Dias Nogueira, o problema cultural de considerar desnecessária a higienização bucal do bebê é perceptível no comportamento de mães que não limpam a saliva das crianças após, por exemplo, a mamadeira noturna. Pelo simples fato de assoprar a papinha dos filhos, continua Ruchele, as mães podem transmitir a bactéria por meio de gotículas de saliva. "Crianças institucionalizadas (freqüentadoras de creches, escolas infantis) apresentam menor índice de presença da bactéria porque são estimuladas a fazer a higiene bucal", enfatiza.
A limpeza da gengiva do bebê, detalha a doutoranda, deve ser feita com gaze embebida em água, em movimento delicado, sempre após as mamadas, mamadeiras e papinhas. Em crianças com dentição, os pais devem fazer escovação e utilizar o fio dental. "A primeira ida ao dentista pode ser a partir dos seis meses de vida, para orientação. Depois, as crianças devem ir a cada seis meses", recomenda a dentista.
ELIANA TEIXEIRA
Gazete de Piracicaba

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