segunda-feira, 26 de julho de 2010

471. Diário Digital / LUSA entrevistam Bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas (Parte 1: A entrevista)

Ordem dos Médicos Dentistas
diz que há vagas em excesso
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A Ordem dos Médicos Dentistas considerou hoje excessivas as vagas disponíveis no Ensino Superior, em virtude de o mercado de trabalho ser quase exclusivamente privado em Portugal, onde o rácio de profissionais está acima da Europa. “Temos atualmente uma relação de um dentista para 1.339 habitantes, cerca de 7.200 médicos dentistas com uma média de idades de 34/35 anos. É uma classe muito jovem, onde a renovação vai sentir-se muito tarde e temos uma taxa de crescimento anual de 8,2 por cento”, disse à agência Lusa o bastonário Orlando Monteiro da Silva.
Para o especialista, há já faculdades de Medicina Dentária em excesso (sete), “quase o mesmo número de faculdades de Medicina”, onde existem várias especialidades. “Por aí se vê o exagero”, afirmou o médico, acrescentando que estão atualmente registados no estrangeiros mais de 500 médicos dentistas a exercer no Reino Unido, Suécia, França e outros países europeus, na maioria jovens “sem possibilidade de colocação no mercado de trabalho em Portugal”.
Acresce que, ao contrário de outros países, estes profissionais exercem a actividade quase em exclusivo no privado, logo adverte que o rácio “verdadeiramente deveria ser divido por dois”, já que “mais de metade da população não tem acesso a cuidados de medicina dentária”. “Exceto o mecanismo do cheque dentista, ainda com uma dimensão reduzida, em Portugal não há médicos dentistas em organismos públicos, como noutros países”, frisou.
Assim, Orlando Monteiro da Silva, afiança que Portugal tem “excesso de médicos dentistas” e quase o mesmo número de faculdades da Inglaterra e outros países com uma dimensão maior. “Ficamos muito desiludidos por verificar que as vagas para Medicina Dentária se mantêm ou aumentam ligeiramente, numa área em que não são necessários mais médicos”, criticou.
No total, as sete faculdades disponibilizam 557 vagas: 60 na Faculdade de Medicina Dentária de Lisboa, 80 na Faculdade de Medicina Dentária do Porto, 42 em Coimbra, 100 no Instituto Superior de Ciências de Saúde do Norte, 65 no Instituto Superior de Ciências Egas Moniz, 75 na Universidade Católica Portuguesa e 95 na Fernando Pessoa.
“As vagas não aumentaram muito, cerca de 4/5 por cento, mas o que se esperaria era uma diminuição, porque se não for feita vamos continuar a ter pessoas no desemprego ou em sub emprego”, declarou. Acresce que no ano passado já houve licenciados a sair mais cedo das faculdades, com a redução do curso de seis para cinco anos, em função do Processo de Bolonha.
“Vamos continuar a ter muitas pessoas numa formação que é das mais caras em Portugal a sair do país para exercer a profissão, aproveitando outros países o investimento que é feito na formação de técnicos altamente qualificados”, lamentou.
“Mais licenciados sim, mas tem de haver um planeamento para não termos problemas no futuro”, defendeu, referindo-se às declarações do ministro do Ensino Superior, Mariano Gago, segundo o qual Portugal tem metade dos licenciados que deveria ter, face a outros países desenvolvidos.
Diário Digital

sexta-feira, 23 de julho de 2010

470. Dentistas recusam clientes que usam cheques do Estado

O atraso no pagamento dos cheques-dentista às clínicas da região Norte que aderiram ao programa de saúde oral já levou algumas a recusar pacientes. Estão em dívida 2,38 milhões de euros, parte há vários meses. A promessa oficial é resolver a situação ainda em Julho.
Marisa Pinto assume claramente que, enquanto não receber os quatro mil euros que tem a haver – parte ainda respeitantes a Julho do ano passado – pelos tratamentos a idosos, grávidas e crianças, a Cliforno não aceitará doentes novos. “Tratamos os que são nossos doentes, para não os perder, mas recusamos doentes novos”.
Os cheques-dentista foram criados no âmbito do Programa Nacional de Saúde Oral e visam dar tratamentos dentários a grávidas acompanhadas nos centros de saúde, idosos beneficiários do complemento solidário e crianças. O Ministério da Saúde paga 40 euros por consulta aos privados que adiram ao plano.
A Cliforno é apenas uma das muitas clínicas com créditos na Administração Regional de Saúde do Norte (ARSN). A gerente garante que a dívida “está a afectar a actividade”. De cinco mil euros de recibos enviados, apenas recebeu mil. Mas acredita que parte do problema se deve ao facto de só ter enviado os recibos para conferência no fim dos tratamentos (cada criança tem três cheques, tal como as grávidas, enquanto os idosos recebem dois).
Outro médico dentista (que preferiu o anonimato) fala em seis mil euros em atraso. Não recebe desde Janeiro. Não recusou pacientes – “ainda...” – e alerta para o facto de se poder perder na qualidade dos tratamentos.
Do lado da Ordem dos Médicos Dentistas (OMD), o secretário-geral Paulo Melo arrisca o montante em dívida: “quatro milhões de euros”, só no Norte. É a única região que ainda não resolveu os problemas, com o argumento da ligação entre os sistemas informáticos que fazem a conferência dos cheques e processam o pagamento após emitido o recibo.
“Agora dizem que pagam em Julho um volume significativo. Mas já tinham dito que seria em Junho e, antes disso, tinham prometido em Maio”. Paulo Melo garante que “o acumular de dívidas já põe em causa alguns consultórios”, sobretudo num momento de crise. E a situação ameaça piorar até ao final de Agosto, uma vez que os cheques das crianças têm validade até ao dia 31 do próximo mês e deverá registar-se agora uma corrida às clínicas.
A OMD tem “pressionado” o Ministério no sentido de se resolver a questão, o que tem gerado críticas de médicos dentistas. “Andam a pressionar há meses e nada. Só fazem isso?”, questiona um profissional ouvido pelo JN.
Confrontado com a questão, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde reconhece que “a situação não está totalmente resolvida”, mas está a melhorar. A ARS do Centro também enfrentou dificuldades, mas já as solucionou. Mas faz contas diferentes das da OMD para o Norte: estão em dívida 2,38 milhões de euros, dos quais 1,2 milhões serão pagos até ao fim do mês. “O resto está a ser processado”.
Mas são contas que envolvem apenas “cheques já facturados” e não englobam a totalidade dos tratamentos. Manuel Pizarro admite dificuldades da administração e atraso na conferência de cheques, mas garante que muitos consultórios também se atrasaram no envio de recibos.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

469. Jornal i entrevista Orlando Monteiro da Silva (Parte 2: Análise da entrevista/Conclusão)

Todos nós sabemos que a formação de cada médico dentista representa um encargo de largas dezenas de milhares de euros, suportados pelos nossos impostos. É extremamente confrangedor ver emigrar parte dos médicos formados em Portugal; trata-se de recursos limitados que temos em reduzido número face às reais necessidades do país.
Poderá a Ordem dos Médicos Dentistas fazer algo para inverter esta situação, aumentando a oferta da medicina dentária à população em geral, diminuindo por exemplo os custos das consultas e dos tratamentos de forma a abranger um maior universo de pessoas de rendimentos mais baixos? A uma descida no preço das consultas e dos tratamentos dentários poderá corresponder a um aumento muito significativo da população às consultas de medicina dentária, o que terá um efeito positivo no aumento exponencial de receitas totais para as clínicas e consultórios de medicina dentária, o que seria extremamente vantajoso numa época de crise como a que estamos a atravessar actualmente, garantindo mais postos de trabalho e a fixação dos médicos dentistas no nosso país.
Se emigração não é solução, talvez seja altura da própria Ordem dos Médicos Dentistas motivar os jovens médicos dentistas a trabalharem em Portugal, em vez de serem aliciados por empregos no estrangeiro.
Alertados para o facto de existir muito exercício ilegal da medicina dentária em Portugal, com redes clandestinas de recrutamento, aguardamos que a Ordem dos Médicos Dentistas faça a denúncia urgente de cada uma dessas situações junto das autoridades competentes e se ponha fim imediato a tal situação.
Uma boa solução para colocar fim definitivo à controvérsia do exercício ilegal da medicina dentária em Portugal, nomeadamente com recrutamentos feitos no Brasil, seria o trabalho em conjunto entre as classes profissionais dos dois países; por alguma razão o brio profissional de muitos cirurgiões dentistas brasileiros, a trabalhar em Portugal, são elogiados pelas faculdades portuguesas de medicina dentária.

domingo, 18 de julho de 2010

468. PORTUGAL: Só 1 em cada 50 jovens faz higiene oral correcta

Um em cada cinco adolescentes não lava os dentes todos os dias, sendo os rapazes os mais descuidados, revela um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e da Escola Superior de Saúde de Viseu. O mesmo estudo indica que apenas um quarto dos jovens escova os dentes duas ou mais vezes diariamente e que o hábito está relacionado com as habilitações literárias dos pais.
Pouco mais de um por cento cumpria todos os requisitos para uma saúde oral adequada - escovagem duas ou mais vezes por dia, utilização de fio dentário e visita ao dentista duas ou mais vezes por ano. A amostra da investigação foi de sete mil jovens, com idades entre os 12 e os 18 anos, de escolas públicas do distrito de Viseu, que foram questionados sobre hábitos de higiene oral e condições socioeconómicas. O inquérito concluiu que as raparigas escovam mais vezes os dentes, usam mais frequentemente o fio dentário e vão mais a consultas de dentistas.
Nélio Veiga, autor do trabalho, admitiu que a frequência da lavagem dos dentes está relacionada com as habilitações literárias dos pais. «Quanto mais escolarizados são os pais, maior é a probabilidade de o jovem escovar os dentes duas ou mais vezes por dia, seguindo as recomendações clínicas», notou. A área de residência também influencia, uma vez que adolescentes de zonas urbanas indicaram maior prevalência de escovagem em relação aos que vivem em zonas rurais.
Sobre o uso do fio dentário, apenas 4,4 por cento disse usá-lo, enquanto mais de metade da amostra garantiu ter consultado um dentista no ano anterior. Mas 13 por cento dos jovens afirmaram nunca terem ido a uma consulta. Dos que foram consultados por um especialista em Medicina Dentária, metade procurou um dentista para consultas de rotina, 28 por cento devido a dores e 22 por cento por causa de outros problemas.
O investigador manifestou a sua preocupação por uma «elevada proporção» de adolescentes irem ao médico apenas quando têm dores de dentes. «Em Portugal, as desigualdades registadas no acesso aos cuidados de saúde oral das populações são bem evidentes, resultando do facto de, na sua maioria, serem exercidos no sector privado, condicionando o acesso dos mais desfavorecidos por falta de recursos financeiros», lembrou ainda o investigador.
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Esta é a realidade da saúde oral das crianças e jovens em Portugal. Se alguém ainda diz que há excesso de médicos dentistas no nosso país, esta crónica indica que largas centenas de milhares de crianças e jovens continuam a ser marginalizadas no acesso a cuidados de saúde oral.
Afinal, para que servem os departamentos de saúde oral na Direcção - Geral de Saúde, para que serve a saúde escolar, enfim, para que servem as ordens profissionais ligadas à saúde oral? Qual é o objectivo que o Ministério da Saúde e da Educação pretendem fazer face a esta situação?
Uma autentica vergonha por parte de quem deveria, no mínimo, cumprir e fazer cumprir a Declaração Universal dos Direitos da Criança.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

467. Jornal i entrevista Orlando Monteiro da Silva (Parte 2: Análise da entrevista/3)

O Bastonário da Ordem dos Médicos Dentista alerta para o possível erro profundo de cair na tentação de fazer hipermercados de tratamentos de medicina dentária, a partir das próprias faculdades de medicina dentária. Assim, nesse sentido, é necessário e muito urgente regulamentar as parcerias entre os sectores público e privado, de modo a permitir um crescente acesso da população em geral a cuidados de saúde oral e eliminar as diferenças de preços praticadas entre as consultas prestadas nas faculdades de medicina dentária e os consultórios fora das faculdades de medicina dentária. No dia em que ir a uma consulta de medicina dentária seja igual, em termos de custo para os clientes, entre as diferentes ofertas da especialidade, a qualidade passará a determinar onde as pessoas pretendam ser consultadas.
O principal problema da medicina oral em Portugal, a médio prazo, continua a residir na prática de preços completamente exorbitantes na prestação de cuidados de saúde oral; no dia em que os preços se ajustarem à realidade das posses económicas da população, não haverá oferta de médicos dentistas em número suficiente para corresponder à procura. Não se compreende a preocupação da limitação do número de médicos dentistas a formar pelas faculdades de medicina dentária, quando os esforços se deveriam orientar para aumentar a oferta de cuidados de saúde oral, melhorando a qualidade dos serviços prestados e diminuir consideravelmente os preços actualmente praticados nos consultórios; actualmente, a maior parte da população portuguesa continua ainda sem ter qualquer possibilidade de acesso a cuidados de saúde oral ao longo da sua vida.
A aposta na revitalização da especialidade nos Centros de Saúde, conjugado com o desenvolvimento do sector cooperativo e do sindicalismo na área da medicina dentária, aliada a um cada vez maior esforço de cooperação entre médicos dentistas e todos os outros técnicos especializados em saúde oral são fortes opções que podem forçar interesses privados e das multinacionais no sector a baixar o preço da mão – de – obra e da matéria – prima.
É completamente absurdo e falso fazer querer ao país que já existe um número em excesso de médicos dentistas em Portugal. O futuro é uma oportunidade que deve ser agarrada com as duas mãos.

terça-feira, 13 de julho de 2010

466. Saúde Oral infantil em Portugal: Situação completamente caótica e a precisar de urgente intervenção

No passado dia 30 de Junho de 2010, foram apresentados na Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto (FMDUP), os resultados do Projecto ParanhoSorridente. O Projecto, teve início em Outubro de 2008, partiu de um protocolo entre a Junta de Freguesia de Paranhos e a Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto (FMDUP) no sentido de melhorar a saúde oral das crianças e adolescentes que frequentam os jardins-de-infância e as escolas da freguesia de Paranhos.
O Projecto foi patrocinado pela Caixa Geral de Depósitos (CGD). Desde o início dos trabalhos até ao mês de Abril de 2010, o programa de saúde oral comunitária "ParanhoSorridente" passou em revista mais de 3000 bocas de crianças do ensino pré-escolar e do 1.º ciclo do ensino básico da freguesia de Paranhos.
A sessão foi aberta com um breve discurso de apresentação pelo Presidente do Conselho Directivo da FMDUP, Prof. Doutor Afonso Pinhão Ferreira, recentemente eleito Director da Instituição para o quadriénio 2010-2014. Em representação da Junta de Freguesia de Paranhos, Dr. Alberto Machado e a Dr.ª Fátima Lopes, Responsável pelo Pelouro da Educação. E em representação da Ordem dos Médicos Dentistas, o Prof. Doutor Ricardo Faria Almeida.
De seguida, a Responsável pelo Projecto ParanhoSorridente, a Prof.ª Doutora Isabel Roçadas Pires, apresentou os resultados aferidos. Em suma, concluiu-se que quase 70% das crianças de Paranhos, Porto, têm cáries na dentição definitiva, sendo que 39,6% precisa de tratamento urgente.
Nos últimos dois anos, foram efectuados rastreios 1 160 crianças, entre os 3 e os 13 anos na Clínica da FMDUP, além de terem sido realizadas quase duas dezenas de acções de promoção de saúde oral nas nove escolas integradas no projecto. Para além disso, concluiu-se que, em termos da totalidade aferida, 69,1% das crianças têm cáries na dentição definitiva, revelando ainda que quase 50% mostram sinais de inflamação nas gengivas.
Para finalizar, a Responsável pelo Projecto ParanhoSorridente, Prof.ª Doutora Isabel Roçadas Pires, ressalvou que a parceria com a Junta de Freguesia de Paranhos deverá constituir um exemplo a seguir e constituir objecto de participação por parte das instituições política e educativas.
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto

terça-feira, 6 de julho de 2010

465. Jornal i entrevista Orlando Monteiro da Silva (Parte 2: Análise da entrevista/2)

Para o bastonário da Ordem dos Médicos Dentista, o Estado não tem de prestar cuidados de saúde mas zelar que estes são prestados, regulados e financiados. Segundo essa perspectiva, parece que a OMD defende que os cuidados de saúde devam ser prestados por contratação de serviços a terceiros e suportados financeiramente pelos nossos impostos; é uma opção, como muitas outras. Logicamente terá aspectos positivos e aspectos negativos. No entanto, é preciso lembrar que, em trinta anos, o Estado montou uma vasta e completa rede de serviços públicos de saúde, tanto em quantidade como em qualidade, pelo que seria mais lógico favorecer uma completa concorrência de prestação de cuidados de saúde entre a oferta do sector publico e a oferta do sector privado, deixando a opção aos doentes/clientes; isso sim é que seria a melhor lógica: todos ficaríamos a ganhar e os equipamentos existentes seriam devidamente rentabilizados. Não podemos agora deixar de rentabilizar o investimento público realizado pelo Estado nos últimos trinta anos e entrega-lo a empresas ou grupos económicos privados que visam o lucro, à custa da exploração dos doentes/clientes.
Relativamente ao programa de cheque-dentista, o mesmo é uma desesperada maquilhagem montada pelo Ministério da Saúde no sentido de colmatar parcialmente uma das maiores debilidades criadas pelas erróneas politicas seguidas na área da saúde oral pelos vários governos nos últimos trinta anos; utilizar o cheque-dentista para fidelizar doentes/clientes, à custa da miséria e da pobreza de quem tem de recorrer à sua utilização parece, no mínimo, uma declaração caricata. A fidelização deverá orientar-se, isso sim, pela qualidade dos serviços prestados.
Fica uma pergunta: como foi possível à OMD aceitar o programa quando pedia 80 euros por cada cheque-dentista e o seu valor foi fixado em 40 euros? Afinal, será que os tratamentos efectuados por cada cheque-dentista seriam idênticos caso o seu valor fosse o dobro do actual? São questões prementes que a entrevista não dá a esclarecedora resposta.
Perniciosa continua a ser a relação entre uma grande proporção de dentistas e seguradoras, sem que a OMD imponha uma ordem de ética que salvaguarde a saúde oral dos os doentes/clientes; pura aberração, como não podia deixar de ser, as comparticipações da ADSE nos custos de tratamentos de saúde oral.
(Continua)

sexta-feira, 2 de julho de 2010

464. BRASIL: Dentistas são contra fim do flúor na água

A Associação Brasileira de Odontologia (ABO) protesta contra o projecto de lei 297/2005, de autoria do senador António Carlos Valadares (PSDB-SE), que limita a utilização de flúor na profilaxia da cárie dentária à aplicação tópica e proíbe a adição da substância na água, bebidas e alimentos.
A proposta revoga a Lei nº 6.050, de 24 de Maio de 1974, que dispõe sobre a fluoretação da água em sistemas de abastecimento quando existir estação de tratamento, e está sendo relatada na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) pelo senador Flávio Arns (PT-PR).
A entidade refuta as justificativas apresentadas pelo parlamentar. Valadares aponta a existência de dados que contrariam a tese de que a ingestão sistémica de flúor é eficaz na profilaxia da cárie dentária e que inúmeros outros estudos mostram também a enorme ocorrência de fluorose dentária.
O parlamentar afirma também que já existe um consenso entre os especialistas de que a acção profilática do flúor decorre sobretudo de sua aplicação tópica e que não faz sentido, portanto, obrigar toda uma população a ingerir um elemento tóxico na água de abastecimento público ou em alimentos e bebidas nos quais ele vem sendo rotineiramente adicionado.
Método eficaz e de baixo custo – De acordo com a ABO, a fluoretação do sistema de abastecimento público de água pode reduzir em até 60% a incidência de cáries. As estatísticas oficiais confirmam a validade da medida. O Ministério da Saúde diz que entre 1986 e 1996, houve uma queda de 53% na prevalência de cárie em crianças de 12 anos de idade provocada pela política de fluoretação.
O flúor é indicado por mais de 150 organizações de ciência e saúde, entre as quais a Federação Dentária Internacional (FDI), a Associação Internacional de Pesquisa em Odontologia (IADR), a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e, desde que seja oferecido à população em dosagens e teores adequados, não oferece risco às pessoas, declara o presidente da ABO.
OMS e FDI defendem o flúor – Segundo o Relatório Mundial da Saúde Oral de 2003 da OMS, as cáries continuam a ser um grande problema da saúde na maioria dos países industrializados, afectando de 60 a 90% das crianças em idade escolar e a grande maioria dos adultos. Ainda de acordo com o documento, a adição de flúor à água, onde possível tecnicamente e aceito culturalmente, tem vantagens substanciais na saúde pública.
Em Novembro de 2000, em Paris (2000), a FDI aprovou o Relatório sobre Flúor e Cárie. O documento conclui, com base em vasta evidência científica, que se a substância for usada apropriadamente e com as concentrações adequadas para a prevenção de cáries, o flúor é seguro e eficaz.
O relatório informa que a fluorose dental pode ser causada pela ingestão excessiva de flúor durante o desenvolvimento pré-eruptivo dos dentes, mas que nos níveis de flúor utilizados para prevenir as cáries, a opacidade ou fluorose somente ocorre numa proporção relativamente pequena da população.
De acordo com o relatório, estes sintomas em geral são muito suaves e, principalmente, de interesse estético. Conforme a FDI, uma vez que os níveis de ingestão sejam cuidadosamente monitorados, o flúor é considerado a medida da saúde pública mais importante para a manutenção da saúde oral.