sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

422. Pai, quando for grande posso ser dentista para tratar os dentes dos outros meninos?

A conjugação dos interesses economicistas do Governo e o objectivo da Ordem dos Médicos Dentistas de restringir no futuro o número de médicos dentistas pode vir a causar uma drástica redução da acessibilidade da maior parte da população portuguesa a cuidados de saúde oral nos próximos anos.
==========================
Questionado sobre a possível contratação de mais médicos dentistas para o Serviço Nacional de Saúde, o Secretário de Estado Adjunto e da Saúde Manuel Pizarro garantiu que essa não é a estratégia do Ministério da Saúde. «Essa estratégia significaria que iríamos colocar o Serviço Nacional de Saúde a concorrer com uma rede que já existe por todo o país de consultórios e clínicas de medicina dentária. Do ponto de vista do interesse nacional geral essa não seria uma boa estratégia e iríamos duplicar o investimento ao substituir a cooperação pela concorrência», defendeu.
Para o reeleito bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas, a melhoria dos índices de acesso da população aos cuidados de saúde oral é uma das principais prioridades, mas apontou igualmente o excesso de médicos dentistas como um problema a resolver. «Infelizmente esta situação leva muitas centenas de médicos dentistas a ter que procurar outros países para exercer a profissão e obviamente que isto constitui uma frustração para os médicos mais jovens que não vêem grandes possibilidades de exercício da profissão em Portugal e isto constitui um problema gravíssimo», apontou Orlando Monteiro.
Para Orlando Monteiro, o problema resolve-se com a adequação do número de vagas de cada uma das sete faculdades às reais necessidades do país, bem como com uma maior aposta das faculdades na pós-graduações e nos Países Lusófonos, «onde há uma enorme carência de médicos dentistas». «Que as faculdades se orientem mais para a qualidade e não tanto para a quantidade como acontece hoje em dia», rematou.
* * *
Quero expressar, em primeiro lugar e em nome de todos os profissionais de saúde oral que ainda trabalham no Serviço Nacional de Saúde, o maior repúdio pelas declarações e intenções manifestadas pelo Secretário de Estado Adjunto e da Saúde Manuel Pizarro. Trata-se de uma concepção completamente à revelia dos interesses da população do país, contra todos os profissionais públicos que ainda temos na área da saúde oral e apenas demonstra o interesse subjacente de desmantelar o que ainda resta do Serviço Nacional de Saúde e criar condições para que a saúde oral fique nas mãos de privados, com ganância absoluta pelo lucro.
Mais: colocar o Serviço Nacional de Saúde a concorrer com uma rede que já existe por todo o país de consultórios e clínicas de medicina dentária seria a melhor forma de promover a qualidade e reduzir custos, favorecendo a população. A concepção de evitar a concorrência é uma ideia contra natura, que todos nós estudamos dos tempos do socialismo da União Soviética e cujos resultados todos sabemos quais foram.
Relativamente à posição de limitar o número de médicos dentistas, trata-se de uma posição contra a Constituição da República e uma clara violação das aspirações dos jovens que queiram vir a exercer a profissão de dentista no futuro; seria uma grave ingerência na regulação do mercado da saúde oral, prejudicaria gravemente a esmagadora maioria da população portuguesa e iria contribuir para o reforço dos já dramáticos contrastes sociais no acesso a cuidados de saúde oral.
Portugal, pelo contrário, necessita urgentemente de alargar a oferta de prestação de serviços de saúde oral de modo a satisfazer as necessidades prementes; tal só será possível com um alargamento ainda substancial do número de médicos dentistas, de modo a chegarem geograficamente às regiões mais periféricas e a contribuírem para uma melhor regulação do mercado afecto à área da saúde, contribuindo para uma melhor qualidade dos serviços prestados e uma redução significativa dos custos.
Resumindo, neste momento ainda existe uma clara insuficiência de médicos dentistas em Portugal e o facto de muitos partirem para o estrangeiro em nada contribui para melhor a saúde oral em Portugal, sobretudo depois de terem sido formados à custa dos nossos impostos.
Uma melhor auto regulação da actividade e a abertura da especialidade nos hospitais públicos e centros de saúde deve ser a primeira prioridade a ter em conta, tanto pelo governo como pela Ordem dos Médicos Dentistas.
Não passa pela cabeça de nenhum pai impedir um filho de querer vir a ser um médico dentista.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

421. Saúde oral na Área de Projecto do 12º ano

* * *
A Área de Projecto é uma disciplina do 12º ano que visa, entre muitas outras coisas, promover a orientação escolar e profissional dos alunos, relacionando os projectos desenvolvidos com os seus contextos de trabalho e saídas profissionais ou preparar para o prosseguimento dos estudos e a inserção no mercado de trabalho.
Foi no âmbito desta disciplina que este blog apareceu. Somos alunos do 12 ºano, curso Ciências e Tecnologias, da Escola Secundária Dr. Francisco Fernandes Lopes (Olhão), e pretendemos ao longo do ano desenvolver o tema «Saúde Oral», incidindo especialmente na população juvenil.
Este blog servirá então como meio de noticiar tudo o que o grupo vai realizar ao longo do ano, bem como todos os eventos e iniciativas que vão sendo dinamizadas.

domingo, 24 de janeiro de 2010

420. Estado passou cheques-dentista carecas a crianças

* * *
Em Setembro, José Carlos recebeu um cheque-dentista para a filha ser observada gratuitamente num consultório privado. A data era de Junho, mas só lhe chegou às mãos três meses depois. Mesmo assim, ligou para o consultório e fez uma marcação. Conseguiu vaga para Novembro.
Semanas depois, recebeu em casa uma carta para pagar a consulta, porque "o cheque-dentista" estava fora do prazo. A queixa seguiu para a ministra da Saúde, através do deputado do PCP Bernardino Soares, mas o cheque careca passado pelo Estado a este pai do Porto não é caso único.
O coordenador do Programa Nacional de Saúde Oral, Rui Calado, admite que já recebeu várias queixas. Mas, como o sistema informático não permite registar vales fora do prazo, refere que não há forma de saber quantos cheques foram entregues pelas escolas após a data, ou quantos pais deixaram passar o limite por descuido. "Se se provar que os atrasos foram nos nossos serviços ou na escolas, tentaremos encontrar uma solução", garante.
* * *
A fórmula mais simples de se humilharem os pais das crianças que recorrem aos cheques-dentistas do Programa Nacional de Saúde Oral, destinados a crianças e jovens.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

419. Qual o caminho a seguir pela Ordem dos Médicos Dentistas?

Portugal continua, em pleno século XXI, sem definir uma política estratégica no âmbito da saúde oral. Os governos continuam simplesmente a ignorar a importância da saúde oral para o bem-estar das pessoas e largas centenas de milhares de crianças e jovens continuam sem nenhuma perspectiva de terem acesso a consultas de saúde oral, em tempo útil. O nosso país continua a discriminar a acessibilidade dos cidadãos a cuidados de saúde oral, violando quaisquer princípios da dignidade humana, não respeitando diversas convenções internacionais que assinou, nomeadamente a Carta Universal dos Direitos de Criança.
Actualmente, em Portugal, a saúde oral apenas se encontra acessível às classes sociais privilegiadas, nomeadamente da burguesia e aliada ao poder político e económico vigente; a esmagadora maioria das classes trabalhadoras, pensionistas, reformados e dependentes estão manifestamente impossibilitados de acederem à saúde oral pelo Serviço Nacional de Saúde, que não dá quaisquer respostas às necessidades da população.
Todos sabemos que não existem falta de recursos económicos; o problema reside exclusivamente na péssima administração pública que temos actualmente, pesada e excessivamente administrativa e burocrata, que rouba milhares de milhões de euros anualmente dos nossos impostos para suportar empregos que pura e simplesmente nada produzem para o país; todo esse dinheiro deveria reverter para as necessidades prementes da população e o estado deveria reduzir drasticamente tantos gabinetes cheios de pessoas improdutivas que nada servem para um país, que quer ser moderno e desenvolvido, enquanto persistir o modelo actual da administração pública.
É completamente falsa a ideia de que é extremamente onerosa a criação de uma rede nacional de cuidados de saúde oral em todos os centros de saúde do país; essa concepção mercantilista da saúde não tem qualquer cabimento, pois a saúde não se compra ou vende. Todos sabemos que a prevenção em saúde oral pode poupar uma fortuna infinita de recursos financeiros a médio e longo prazo, pelo que qualquer investimento feito hoje será rapidamente amortizável no futuro, acrescido por elevadíssimos ganhos em termos de melhoria de saúde.
Neste contexto, é extremamente determinante a posição da Ordem dos Médicos Dentistas; esta deverá ter que escolher entre a opção de continuar a deixar estar tudo como está ou se quer realmente contribuir no sentido de mudar radicalmente as politicas de saúde oral seguidas em Portugal.
A escolha é simples: continuar a sermos um país em que só os privilegiados terão acesso à saúde oral, entregue a privados que unicamente têm interesses no lucro e vêem a saúde oral como um negocio (não fazendo absolutamente nada para prevenir e combater as doenças orais, de forma a garantir para si um nicho de mercado a médio e longo prazo, constituindo um travão a qualquer melhoria global da saúde oral da população portuguesa e comportando-se como na generalidade dos países do terceiro mundo, em que os interesses económicos se sobrepõem aos interesses sociais), ou então muda o seu rumo e entende a saúde oral como um bem essencialmente social (não económico), elementar e fundamental para todas as pessoas, lutando pela plena integração da saúde oral no Serviço Nacional de Saúde e pela universalidade do seu acesso a todos os cidadãos, sem qualquer discriminação em função das suas possibilidades económicas e primando por uma clara e manifesta prevenção logo deste a infância.
Estará a Ordem dos Médicos Dentistas à altura das exigências da sociedade civil e população, não se deixar levar pelos interesses do regime político instalado e dos grupos económicos, o primeiro unicamente interessado na caça ao voto e em se eternizar no poder e o segundo unicamente em ganhar dinheiro, em troco da saúde das pessoas?

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

418. Involução da saúde oral no Serviço Nacional de Saúde

A Saúde Oral é indiscutivelmente um elemento decisivo no bem estar geral das populações e a atitude de compartimentalização, que envolve uma visão da boca numa perspectiva não holística, ou integrada, é causa de impactos negativos e, por vezes permanentes na saúde geral dos indivíduos, consequentemente, na sua qualidade de vida.
As doenças orais são as doenças crónicas mais comuns. Por outro lado a actual Constituição da República Portuguesa determina:
"Artigo 64.º Saúde:
1. Todos têm direito à protecção da saúde e o dever de a defender e promover.
2. O direito à protecção da saúde é realizado:
a) Através de um serviço nacional de saúde universal e geral e, tendo em conta as condições económicas e sociais dos cidadãos, tendencialmente gratuito;
b) Pela criação de condições económicas, sociais, culturais e ambientais que garantam, designadamente, a protecção da infância, da juventude e da velhice, e pela melhoria sistemática das condições de vida e de trabalho, bem como pela promoção da cultura física e desportiva, escolar e popular, e ainda pelo desenvolvimento da educação sanitária do povo e de práticas de vida saudável.
3. Para assegurar o direito à protecção da saúde, incumbe prioritariamente ao Estado:
a) Garantir o acesso de todos os cidadãos, independentemente da sua condição económica, aos cuidados da medicina preventiva, curativa e de reabilitação;
b) Garantir uma racional e eficiente cobertura de todo o país em recursos humanos e unidades de saúde;
c) Orientar a sua acção para a socialização dos custos dos cuidados médicos e medicamentosos;
d) Disciplinar e fiscalizar as formas empresariais e privadas da medicina, articulando-as com o serviço nacional de saúde, por forma a assegurar, nas instituições de saúde públicas e privadas, adequados padrões de eficiência e de qualidade;
e) Disciplinar e controlar a produção, a distribuição, a comercialização e o uso dos produtos químicos, biológicos e farmacêuticos e outros meios de tratamento e diagnóstico;
f) Estabelecer políticas de prevenção e tratamento da toxicodependência.
4. O serviço nacional de saúde tem gestão descentralizada e participada."
Sendo assim, não obstante ao que a Constituição do País como vimos preconiza, no que se refere às restantes áreas da Saúde, o Estado genericamente melhor ou pior, tem vindo a cumprir, mas já no que se refere à área da SAÚDE ORAL, pode dizer-se que se verificou um retrocesso em relação ao que existia antes do 25 de Abril. Até esta data, o "Estado Novo" continha nos postos da antiga "Caixa de Previdência" gabinetes de Medicina Dentária, onde eram praticados pelo menos alguns tratamentos básicos.
Mas após o 25 de Abril, embora nos novos Centros de Saúde então criados, alguns deles com ajudas quer dos EUA quer da Suécia e Noruega, contiveram gabinetes de Medicina Dentária, que gradualmente vieram a ser desmantelados, não dando a oportunidade a que os novos Médicos Dentistas que em abundância começaram a sair das Faculdades, pudessem vir a ser integrados no SNS, tal e qual os clínicos das outras áreas de saúde, para dar funcionalidade aos ditos gabinetes, permitindo o acesso aos cuidados de Saúde Oral à generalidade da população portuguesa, que tão carecida está dos mesmos, como a lei fundamental do País assim o determina .
Sabendo-se que o estado da Saúde Oral dos indivíduos produz efeitos significativos na sua qualidade de vida e que alguns aspectos da patologia oral têm repercussões:
- Não só Físicas,
- Como Psíquicas,
- E por sua vez Sociais.
Vejamos:
a) Determinados estudos revelaram que uma criança afectada pela cárie aos 3 anos de idade tem em média, menos 1kg do que uma criança sem cárie;
b) A ocorrência de infecção e dor pode alterar os hábitos alimentares e do sono (irritabilidade);
c) O número estimado de horas de escola perdidas por motivos relacionados com a Saúde Oral é de 117.000 por cada 100.000 crianças;
d) Estes impactos nas actividades quotidianas não se circunscrevem ao indivíduo, acabam também por afectar a sua família;
e) Deste modo também a Sociedade em geral.

Sabe-se também que toda a cascata de problemas associados às Doenças Orais, não está limitado aos grupos etários mais jovens, poderá ser ainda mais significativa nos idosos, que apresentam taxas de EDENTULISMO (falta de dentes), que varia de 30 a 70% consoante as comunidades, as práticas de tratamento e a disponibilidade de reabilitação (técnicas e orçamentais). Será de realçar que as opções dietéticas destes indivíduos idosos, estão muitas vezes comprometidas o que pode determinar défices nutricionais significativos.
Um dos Objectivos dos Cuidados de Saúde Primários é a redução das desigualdades sociais entre os indivíduos, principalmente no que concerne à Saúde, será pois necessário reforçar a atenção nos Cuidados de Saúde Oral, pois a acessibilidade a esses cuidados pode traduzir-se em resultados válidos e efectivos para a Saúde Geral dos indivíduos. Porém, a ausência dos Profissionais de Saúde Oral, (Médicos Dentista e Estomatologistas) na esmagadora maioria dos Centros de Saúde portugueses e as limitações dos Higienistas Orais no tratamento de algumas doenças da cavidade oral têm conduzido a uma das mais reduzidas taxas de tratamento dentário da Europa, facto perfeitamente compatível com politicas de orçamentação do Ministério da Saúde português para a Saúde Oral de 0,0035% do orçamento total.
Em contraste com o dito anteriormente:
- Alguns estudos classificaram os tratamentos orais como os quartos mais dispendiosos de todos os tratamentos;
- Muitos países desenvolvidos investem entre 5 a 10% do seu orçamento da Saúde Pública na Saúde Oral. Como exemplos, em algumas províncias espanholas, a taxa de tratamento oral em crianças e adolescentes ultrapassa os 80%.
No nosso país, “por despacho nº153/2005, de 5 de Janeiro, que estabeleceu como objectivos do Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral (PNPSO) a redução da incidência e da prevalência das doenças orais nas crianças e jovens, a melhoria dos conhecimentos e comportamentos sobre saúde oral e a promoção da equidade na prestação de cuidados de saúde oral às crianças e jovens com necessidades de saúde especiais”, esteve em curso até 2007, um Programa Escolar de Saúde Oral, em que os Médicos Dentistas ou Estomatologistas, recebiam por doente 75€, tivessem eles muitos ou poucos tratamentos para fazer, ou seja, o Estado recorreu e recorre ao excesso de oferta / procura e de uma forma concorrencial, para fazer “Saúde Oral”, ainda por cima com a anuência da actual OMD (Ordem dos Médicos Dentistas), o que penso eu não ser o caminho correcto, pois isso leva quantas vezes ao descrédito, incentivando ao desleixo e ao pouco profissionalismo por parte de muitos profissionais, que apanhados na enxurrada de outros que saem todos os anos de uma enormidade de Faculdades (7), atendendo às presentes necessidades do País, que sem estruturas reguladoras de facto, sejam elas as Ordens dos Médicos existentes, os Sindicatos ou mais recentemente as Entidades Reguladoras, se vêm obrigados a participar nestas campanhas oportunistas do Ministério da Saúde, das Convenções e mesmo das Seguradoras, cada uma com as suas regras e tabelas obsoletas e limitadoras, num autêntico caos de oferta de serviços e economicíssimo desajustado às realidades.
Mais recentemente, a partir de 2008, “com o despacho nº.4324/2008, de 19 de Fevereiro, foi determinado o alargamento do PNPSO a dois outros grupos populacionais considerados de particular vulnerabilidade (grávidas e idosos carenciados) e o desenvolvimento de uma estratégia de intervenção orientada para a prestação de cuidados de saúde oral a um número muito superior de crianças e jovens”. Assim o PNPSO, passou a abranger:
1 - Grávidas seguidas no SNS – Somatório dos Cheques-dentista atribuídos ( no máximo de 3 ) não pode ultrapassar os 120€ (a execução dos tratamentos pode ser concluída até 60 dias após o parto) ;
2 - Beneficiários do complemento solidário para idosos utentes do SNS – Somatório dos Cheques-dentista atribuídos ( no máximo de 2 ) não pode ultrapassar os 80€ anuais ;
3 - Crianças e Jovens com idade inferior a 16 anos – Somatório dos Cheques-dentista atribuídos (no máximo de 2) não pode ultrapassar os 80€ anuais ;
Para efeitos de Prótese Dentária Removível, existe uma “ participação financeira em 75% da despesa da aquisição e reparação de próteses dentárias removíveis até ao limite de 250€, por cada período de 3 anos”.
CONCLUSÃO
De tudo o que se disse atrás e atendendo à divulgação de dados referentes ao Cheque-Dentista pela actual OMD, a 13/11/2009 no jornal "Sol", o número de utentes do SNS beneficiados foi até à data de 305.382, pelo que daqui se conclui que embora a população portuguesa seja de uns escassos milhões (Portugal, incluindo os Arquipélagos dos Açores e Madeira uma população estimada em 10.529.255 pessoas - estimativa do INE a 31 de Dezembro de 2004, representando uma densidade populacional de 114 pessoas por quilómetro quadrado - o número atrás referido de utentes do SNS atendidos no âmbito do Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral (PNPSO) é insignificante para não dizer ridículo, e tal programa não cumpre com o que está preconizado na lei fundamental do País, já que do ponto de vista da saúde oral, os cidadãos não estão a ser tratados de forma preventiva, curativa e reabilitadora, de forma igual, universal e tendencialmente gratuita.
Clínica Dento-Médica - Dr. Sílvio Ribeiro, Ldª.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

417. Auditoria diz que cheques-dentista discriminam doentes ao arrepio da lei

Foram anunciados em 2007, como o primeiro passo para oferecer à população cuidados de saúde oral - até aí inexistentes no Serviço Nacional de Saúde. Mas o Tribunal de Contas (TC) considera que os cheques-dentista lançados pelo anterior governo socialista para crianças, jovens, grávidas e idosos de baixo rendimento "violam os princípios da universalidade e equidade de acesso aos cuidados de saúde".
A auditoria agora divulgada sobre o Programa Nacional de Saúde Oral refere que "não foram abrangidas todas as crianças e jovens da população escolar dos três aos 16 anos, nem as que frequentam as escolas públicas", sem que haja "fundamento legal explícito". E deixa a recomendação à ministra da Saúde, Ana Jorge, para "zelar pela legalidade", estendendo este serviço a todos os utentes.
Entre 2006 e 2008 - ano em que o programa era feito com base em contratos com clínicas dentárias - o TC refere que 95% da população escolar não beneficiou do programa, "o que revela falta de eficiência e universalidade". Até porque estavam previstos 15 milhões e só foram utilizados 11,7 milhões.
Este é apenas um dos vários reparos deixados pelo TC. A auditoria diz que o financiamento não é claro nem transparente (porque está dividido por três instituições) e sublinha que apenas duas Administrações Regionais de Saúde têm programas de avaliação de qualidade. A auditoria conclui mesmo que, "face à não realização periódica de verificação ou inspecção dos estabelecimentos e de auditorias clínicas aos cuidados prestados, há riscos associados à segurança dos utentes e confirmação dos cuidados pagos" pelos cheques.
O TC levanta dúvidas sobre o preço pago por cada tratamento - que foi negociado com a Ordem dos Médicos Dentistas, mas não tem por base nenhum estudo - e deixa um vasto conjunto de recomendações. Desde a escolha de alimentos saudáveis nas escolas a medidas que "desincentivem a venda livre e produtos prejudiciais à saúde oral nas imediações".
Sobre a questão da universalidade, o Ministério respondeu com a natureza progressiva do programa, tendo em conta o orçamento existente, e a escolha de uma população mais vulnerável para arrancar com a iniciativa. Quanto às medidas propostas para as escolas, refere em vários pontos do contraditório "extravasarem as competências" daquele Ministério.
Rute Araújo
* * *
Verdadeiramente preocupante os dados apurados pelo Tribunal de Contas; para além das eventuais irregularidades e desrespeito pela igualdade no tratamento de todos os cidadãos (mais grave ainda quando feita pelo próprio estado), é profundamente lastimável que o programa, anualmente, só chegue a uma em cada vinte crianças.
Traduzindo por outras palavras, este programa de saúde oral implantado pelos governos do Partido Socialista só chegará a todas as crianças dentro de 20 anos, isto se ninguém nascer em Portugal durante duas décadas e supondo que algumas das actuais crianças possam ter acesso ao programa já depois de terem completado 30 anos de idade.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

416. Publicidade institucional: ‘Sempre a Sorrir’ custa 385 mil €

A Direcção-Geral da Saúde (DGS) gastou 384 933 euros na campanha ‘Sempre a Sorrir’. Os 11 contratos, que incluem produção de um vídeo e pagamento de espaços publicitários às televisões, foram todos feitos com base em ajustes directos, ou seja, sem recurso a concursos. A aquisição dos serviços de concepção do spot publicitário, alusivo às boas práticas de higiene oral, no âmbito do Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral, foi contratada à Utopia Filmes e custou aos cofres da DGS 35 892 euros.
Pela emissão desta campanha institucional, em Maio, a DGS pagou 29 098 euros à RTP, 37 326 euros à SIC, 53 604 à TVI e 9144 à ZON--SIC Notícias. Em Setembro, o vídeo, onde crianças falam sobre os cheques-dentista, voltou às televisões. Por esta altura, a DGS pagou mais 49 524 euros à RTP, 54 539 euros à SIC e 58 581 à TVI. O prazo de execução em todos os contratos foi de 21 dias.
Além do spot publicitário foram ainda contratados à empresa Look Concepts serviços de concepção criativa de folhetos, por três vezes. No total foram pagos 57 260 euros por cerca de um milhão de trípticos informativos.
No dia 12 o Tribunal de Contas criticou o modelo de financiamento do Programa de Saúde Oral, que no seu entender "não tem sido estruturado de forma transparente".
* * *
Esta acção propagandista de um programa caído já em descrédito e contrário ao princípio da equidade na prestação de cuidados de saúde oral é absolutamente inqualificável e inadmissível em qualquer país civilizado; como pode a Direcção-Geral de Saúde promover tamanhos desperdícios de recursos financeiros, atribuindo fundos à RTP que é uma empresa pública, já sustentada pelo erário público, ou a órgãos de comunicação social privados?
Trata-se de actos puramente criminosos, retirando fundos que deviam ser integralmente gastos em actos médicos, prejudicando gravemente, de forma inqualificável, os parcos recursos em saúde oral atribuídos pelo Serviço Nacional de Saúde à esmagadora maioria da população portuguesa.
Em vez de investir por exemplo atribuindo fundos às escolas e atribuindo um cartão de saúde oral a cada criança e adolescente do país, a Direcção-Geral da Saúde, com a conivência do Ministério da Saúde e o papel passivo da Ordem dos Médicos Dentistas, apregoa um desacreditado programa de saúde oral colocado em causa pelo Tribunal de Contas, enchendo os bolsos de dinheiro a alguns órgãos de comunicação social coniventes com o regime politico vigente e defraudando a expectativa de acesso à saúde oral de largas centenas de milhares de crianças e adolescentes do país.