Foram anunciados em 2007, como o primeiro passo para oferecer à população cuidados de saúde oral - até aí inexistentes no Serviço Nacional de Saúde. Mas o Tribunal de Contas (TC) considera que os cheques-dentista lançados pelo anterior governo socialista para crianças, jovens, grávidas e idosos de baixo rendimento "violam os princípios da universalidade e equidade de acesso aos cuidados de saúde".
A auditoria agora divulgada sobre o Programa Nacional de Saúde Oral refere que "não foram abrangidas todas as crianças e jovens da população escolar dos três aos 16 anos, nem as que frequentam as escolas públicas", sem que haja "fundamento legal explícito". E deixa a recomendação à ministra da Saúde, Ana Jorge, para "zelar pela legalidade", estendendo este serviço a todos os utentes.
Entre 2006 e 2008 - ano em que o programa era feito com base em contratos com clínicas dentárias - o TC refere que 95% da população escolar não beneficiou do programa, "o que revela falta de eficiência e universalidade". Até porque estavam previstos 15 milhões e só foram utilizados 11,7 milhões.
Este é apenas um dos vários reparos deixados pelo TC. A auditoria diz que o financiamento não é claro nem transparente (porque está dividido por três instituições) e sublinha que apenas duas Administrações Regionais de Saúde têm programas de avaliação de qualidade. A auditoria conclui mesmo que, "face à não realização periódica de verificação ou inspecção dos estabelecimentos e de auditorias clínicas aos cuidados prestados, há riscos associados à segurança dos utentes e confirmação dos cuidados pagos" pelos cheques.
O TC levanta dúvidas sobre o preço pago por cada tratamento - que foi negociado com a Ordem dos Médicos Dentistas, mas não tem por base nenhum estudo - e deixa um vasto conjunto de recomendações. Desde a escolha de alimentos saudáveis nas escolas a medidas que "desincentivem a venda livre e produtos prejudiciais à saúde oral nas imediações".
Sobre a questão da universalidade, o Ministério respondeu com a natureza progressiva do programa, tendo em conta o orçamento existente, e a escolha de uma população mais vulnerável para arrancar com a iniciativa. Quanto às medidas propostas para as escolas, refere em vários pontos do contraditório "extravasarem as competências" daquele Ministério.
Rute Araújo
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Verdadeiramente preocupante os dados apurados pelo Tribunal de Contas; para além das eventuais irregularidades e desrespeito pela igualdade no tratamento de todos os cidadãos (mais grave ainda quando feita pelo próprio estado), é profundamente lastimável que o programa, anualmente, só chegue a uma em cada vinte crianças.
Traduzindo por outras palavras, este programa de saúde oral implantado pelos governos do Partido Socialista só chegará a todas as crianças dentro de 20 anos, isto se ninguém nascer em Portugal durante duas décadas e supondo que algumas das actuais crianças possam ter acesso ao programa já depois de terem completado 30 anos de idade.
Traduzindo por outras palavras, este programa de saúde oral implantado pelos governos do Partido Socialista só chegará a todas as crianças dentro de 20 anos, isto se ninguém nascer em Portugal durante duas décadas e supondo que algumas das actuais crianças possam ter acesso ao programa já depois de terem completado 30 anos de idade.
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