quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

122) Em 2001 estavamos assim

SNS sem dentistas - Cerca de 90% dos centros de saúde do Serviço Nacional de Saúde (SNS) não têm médico dentista nem fornecem consultas de saúde oral. Nos poucos que têm dentista, as consultas destinam-se quase exclusivamente a crianças, só se realizam em média uma vez por semana e, por isso, têm listas de espera que chegam a atingir os três anos. Quem precisa de tratar os dentes não tem mesmo outra alternativa senão pagar uma consulta no médico particular.
Estas são só algumas das «dramáticas» conclusões de um levantamento feito pela Ordem dos Médicos Dentistas durante os últimos meses a uma amostra alargada de estabelecimentos de saúde pertencentes à rede pública. «A saúde oral é uma valência excluída da saúde em Portugal», comentou a este propósito o bastonário dos Dentistas, Orlando Monteiro da Silva. «E isto implica que, por motivos económicos, grande parte da população não tem, pura e simplesmente, acesso a cuidados de saúde oral», acrescentou.
O levantamento abrangeu mais de 400 estabelecimentos do SNS, espalhados por todo o país, sendo a maioria centros de saúde. Dos mais de 70 hospitais questionados sobre a oferta de serviços de saúde oral, apenas 30% disseram ter dentistas.
Por outro lado, e segundo revela o estudo, só 7% dos centros de saúde que não têm dentista é que encaminham os doentes para o hospital. O problema é que o acesso a estas, como às outras consultas hospitalares de especialidade, nunca é directo - implicando sempre uma referenciação feita pelo médico de família.
Se este encaminhamento não for feito pelo médico de família, os doentes são obrigados a recorrer às urgências. Mas o mais provável é que dêem com a cara na porta. Segundo os dados da Ordem, mais de 80% dos hospitais que têm dentistas ao seu serviço admitiram que não fazem urgência em saúde oral. «Os doentes não têm alternativas, nem quaisquer condições para tratar da sua boca», insiste o bastonário.
Quanto aos centros de saúde, diz o estudo que 90% não têm dentistas e que, naqueles que proporcionam esta consulta, chega a haver listas de espera de três anos. Isto porque na maior parte dos 10% de centros com consulta de dentista «só é aceite uma marcação por semana». E se já é reduzido o grupo de centros de saúde com dentista, é inexistente a oferta de urgências em saúde oral, «o que constitui um factor de grande preocupação» - diz a Ordem. «Se os utentes tiverem um problema grave não poderão sequer deslocar-se a um serviço de atendimento permanente (SAP)», acrescenta o estudo.
Nos centros de saúde onde não há dentistas, os doentes são maioritariamente (92%) encaminhados para médicos particulares. Mas as estes, como diz Orlando Monteiro da Silva, só tem acesso quem pode pagar.
Comparticipações de 55 escudos (23 cêntimos) - O levantamento da Ordem revela ainda outros dados preocupantes. Por exemplo, que no Alentejo e no Algarve só foi encontrado um único dentista a trabalhar em serviços públicos de saúde e que Lisboa, apesar da oferta pública ser maior, é uma das regiões mais carenciadas do país nesta valência.
O Ministério da Saúde já respondeu favoravelmente a algumas das propostas da Ordem para resolver este problema, nomeadamente através de um alargamento das convenções com dentistas particulares. Até agora, porém, o processo não passou do plano das intenções.
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Este texto diz quase tudo sobre a relidade da saúde oral no SNS em Portugal Continental. Hoje, a situação pouco terá evoluído. Por mais que se diga e mil desculpas se inventem, o que está claro é que quase tudo está ainda por fazer em Portugal Continental, no que toca à saúde oral.
Gerofil

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