Um sorriso bonito vale ouro. E anos de vida, também. Cada vez mais estudos estão a encontrar relações imprevistas entre a saúde oral e patologias crónicas, como doenças cardiovasculares e degenerativas do cérebro.
Se se questionarem cem portugueses, apenas um não se vai queixar do estado de saúde dos seus dentes. Os resultados pouco animadores pertencem ao estudo sobre Saúde Oral apresentado pela Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária (SPEMD) e referem-se a mais de 13 mil rastreios efectuados durante 2006. O diagnóstico apurado foi, mais uma vez, francamente negativo e varreu população adulta e crianças de igual forma, o que revela que a educação para a saúde oral não tem beneficiado os dentes portugueses.
Principais problemas: cáries, dentes obturados, falta de dentes, infecções. Dos oito aos 16 anos, 47% das crianças apresentam cárie dentária na dentição permanente; 16% já tiveram infecções, sensibilidade ou dor, mas apenas 50% procuraram tratamento. Os adultos dos 17 aos 30 anos são os que mais dentes cariados apresentam - em média 3,45. Trinta e oito por cento experenciaram dor ou abcessos e 71 % problemas periodontais, mas apenas 42% procurou resolver estes problemas com tratamento dentário.
Esta "alergia" à cadeira do dentista afasta os portugueses da média do cidadão europeu: o mais recente Eurobarómetro revela que o check up anual mais frequente dos europeus é exactamente à saúde dos dentes. Não é possível adivinhar o que está na origem deste exemplar comportamento preventivo dos cidadãos europeus, mas a assiduidade pode dar brilho a muito mais do que o esmalte dentário.
Um estudo publicado na revista científica Heart de Setembro revela que quanto mais cáries e dentes em falta um adulto jovem apresentar, maior o risco de sofrer de doenças cardiovasculares no futuro. Sugere o artigo que as bactérias alojadas na boca podem chegar de alguma forma à corrente sanguínea e provocar infecções ou inflamações crónicas.
Embora sem identificar uma relação causa-efeito, também a American Dental Association admite existir ligação entre a periodontite e a doença cardiovascular, Ave e pneumonia de origem bacteriana. Outros estudos encontraram ainda uma relação perigosa entre doença periodontal em grávidas e nascimentos prematuros, bem como complicações na diabetes. Não a causando, as infecções nos dentes e na boca podem provocar aumento de insulina no sangue e tornar a patologia crónica mais difícil de controlar.
Uma das investigações mais faladas este ano, na área da saúde oral, deu direito a destaque no Wall Street journal. Talvez por se tratar de um dos cancros mais mortíferos ou pela relevância da amostra: 51 mil homens. Em comparação com os que apresentavam bocas sãs, os homens com doenças de gengivas apresentam um risco 64% maior de sofrer de cancro do pâncreas. Embora raro, este risco representa mais 36 casos por 100 mil pessoas.
Na altura, os investigadores de Harvard "acusaram" a Porphyromonas gingivalis, bactéria que afecta as gengivas e que também pode despoletar a formação química de nitrosamidas, uma substância cancerígena, no organismo.
Mas negligenciar a saúde oral pode também reflectirse no cérebro. Um estudo britânico efectuado com cerca de 2500 idosos concluiu que não ter qualquer tipo de dentição eleva 3,57 vezes as probabilidades de se sofrer de algum tipo de disfunção cognitiva. Para além dos já referidos riscos derivados da exposição contínua a uma infecção bacteriana, o estudo de Robert Stewart e Vasant Hirani acrescenta uma outra explicação possível - a alimentação pobre e desequilibrada que os idosos sem dentes tendem a manter pode abrir caminho a doenças degenerativas no cérebro, como o Alzheimer.
Fonte: Revista Performance - Out07
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