A ilha Terceira apresenta o maior índice regional de problemas gengivais em crianças com idade de 12 anos, revela um estudo regional sobre a prevalência de doenças orais na população escolar. Cerca de cinquenta por cento das crianças estudadas, na ilha, apresentam problemas periodontais (gengivais).
Este problema deve-se essencialmente à falta de cuidados de saúde oral ou uma má escovagem dos dentes, explicou o coordenador do estudo, ao nosso jornal. Ricardo Viveiros Cabral, o coordenador do Programa de Promoção de Saúde Oral do Açores, assegura que esta dificuldade será ultrapassada com um trabalho intensivo na promoção da higiene oral junto das crianças em idade escolar. Os indicadores científicos de comparação entre regiões - o índice de cárie dentária em crianças de 12 anos e a percentagem de crianças isentas de cáries na dentição mista (6 anos) – demonstram que a região está evoluir muito rapidamente em matéria de saúde oral.
O especialista em medicina dentária garante que a região em cinco anos (de 2000 a 2005) apresentou "ganhos em saúde consideráveis", registando uma substancial redução da prevalência da cárie dentária, com uma diminuição do índice CPO (cariados, perdidos e obturados) de 4.5 (dentes afectados) para 2.1. “Apesar de ainda estar longe das metas definidas pela OMS (Organização Mundial de Saúde) para 2020, que é de 1.5, os ganhos conseguidos na região são um exemplo nacional”, esclarece Ricardo Viveiros Cabral.
Em relação ao segundo indicador, a percentagem de crianças isentas de cárie, a região, em cinco anos, passou de 30,8% para 37,3%. A meta da OMS é de 80 por cento. A evolução destes índices aumenta com a idade, explica, lembrando que estamos “longe do desejado”, mas que, neste momento, estamos muito perto da média nacional. Houve, segundo Ricardo Viveiros Cabral, uma evolução muito positiva desde a implementação do Programa de Saúde Oral na região e com o aumento de profissionais nas ilhas.
O dentista lembrou que a Região Autónoma dos Açores é a única do país que disponibiliza medicina dentária pública, através de um programa regional com medidas inovadoras ao nível do país. Os centros de saúde dos Açores, à excepção do da ilha do Faial, já asseguram uma média de 27 mil consultas de saúde oral por ano, revelou, alegando “que a próxima meta são 30 mil consultas”.
O especialista reconhece que "ainda há muito a fazer nestas áreas”, mas lembra que a região "partiu da cauda profunda". “Em 2002 os Açores tinham três profissionais na Sistema Regional de Saúde, neste momento são 16 nos quadros e quatro contratados”.
Ricardo Viveiros Cabral recorda a implementação de novas medidas, como o Boletim Individual de Saúde Oral, que é disponibilizado às crianças das nove ilhas e que permite registar toda a informação e historial clínico do seu portador. Este boletim, que pode ser solicitado gratuitamente nos centros de saúde das nove ilhas, constitui mais um contributo para a saúde oral dos açorianos, no âmbito do programa em curso.
A evolução da região em matéria de saúde oral “é reconhecida e elogiada pela comunidade científica e o programa regional será tido como exemplo para o futuro programa nacional” de Saúde Oral. A Ordem dos Médicos Dentistas estima que cerca de 50% da população portuguesa não tem capacidade para pagar uma consulta na medicina dentária privada e defende a implementação do sistema dos Açores em todo o país.“Enquanto não houver médicos dentistas nos centros de saúde ou sistemas de concessão, as pessoas estarão excluídas da saúde oral", afirmou recentemente à agência Lusa o bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas, Orlando Monteiro da Silva. A Ordem tem pugnado para que haja dentistas nos centros de saúde e hospitais portugueses ou para que se criem sistemas de convenção com os privados.
O exemplo dos Açores é várias vezes referenciado pela Ordem e pelos especialistas nacionais. Ricardo Viveiros Cabral espera que o investimento regional seja reforçado, nesta área, no sentido de evitar uma regressão na saúde. “Uma pessoa sem saúde oral, não está de perfeita saúde” – lembra.
O estudo regional sobre a prevalência de doenças orais na população escolar, que deverá ser publicado brevemente pela secretaria regional dos Assuntos Sociais, revela ainda que as ilhas com maior índice de cárie dentárias são as do Grupo Ocidental e que Vila do Porto (Santa Maria) tem a maior percentagem de dentes selados. Os dados revelados, referentes a 2005 e 2006, apontam ainda para um elevado número de crianças com traumatismos dentários (dentes fracturados) na ilha do Faial. Deficiências nos edifícios escolares podem estar a contribuir para esta situação, uma vez que é no início do ano lectivo que se regista o maior número de problemas.
O Pico e S. Miguel apresentam os maiores índices de fluorose dentária, uma alteração que ocorre devido ao excesso de ingestão de flúor, durante a formação dos dentes (provoca manchas nos dentes).
2 comentários:
“Enquanto não houver médicos dentistas nos centros de saúde ou sistemas de concessão, as pessoas estarão excluídas da saúde oral"
Falso. Existe Saúde Oral nos Centros de Saúde desde 1986. Mas é mais fácil intoxicar a opinião pública para aparecer nos media.
onde se enquadram os higienista orais???? já existe na região quem tenha esta competência mas sem colocação!!!!!
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