segunda-feira, 14 de junho de 2010

459. Dentistas 'adoptam' crianças e garantem tratamentos gratuitos

São dentistas e comprometem-se a "adoptar" crianças e a garantir- -lhes tratamentos gratuitos aos dentes até aos 18 anos. Para pôr em prática este projecto de solidariedade pioneiro no País, os dentistas estão no terreno, nas zonas mais carenciadas, e já identificaram 489 crianças. Destas, 109 foram já seleccionadas por apresentarem problemas dentários muito graves.
"Há muito por fazer na saúde oral em Portugal e as crianças não escapam. A nossa ideia é levar estes cuidados aos que mais precisam, mas tendo em conta que, além do tratamento, queremos ajudá-los a formarem-se como pessoas", conta Virgínia Milagre, coordenadora do projecto Dentista do Bem, que hoje é apresentado em Lisboa e conta com o apoio da Fundação EDP.
Em Portugal, desde o início do ano, o projecto já conta algumas dezenas de médicos-dentistas voluntários, que prometem "transformar a vida das crianças e jovens mais carenciados", através de tratamentos dentários gratuitos até aos 18 anos.
"Até podemos ser poucos, mas este nosso trabalho contribuirá para mudar a vida de alguém e só isso já é importante", diz Virgínia Milagre, que também receberá crianças gratuitamente no seu consultório.
O Dentista do Bem promovido pela organização não governamental Turma do Bem arrancou em 2002 no Brasil.
Nesta primeira fase, os profissionais, em articulação com as escolas, visitam os estabelecimentos para um primeiro rastreio, durante o qual são identificados os alunos com carências.
Segue-se depois a segunda fase, em que cada jovem, entre os 12 e os 18 anos, é colocado à "responsabilidade" de um médico-dentista, que o "adopta" profissionalmente.
"Em tempos de crise estamos atentos à nossa realidade e dispostos a ajudar. Mas também sei que, porventura, prestar estes tratamentos de forma gratuita não deve agradar a todos os colegas", desabafa a coordenadora.
No terreno há dois meses, o Dentista do Bem já tem voluntários nas escolas, sobretudo na zona da Grande Lisboa, a identificarem jovens a quem possam proporcionar "um novo sorriso".
Orlando Silva será um dos médicos que vai "adoptar" estas crianças. "Tenho dois consultórios e por isso vou poder tratar quatro crianças e jovens. Mais para a frente logo se vê, quem sabe se não serão mais", conta.
Aderiu ao projecto por contacto com outros colegas e aguarda agora pela atribuição dos menores. "É uma forma de prestar um serviço à comunidade. São crianças que provavelmente não teriam outra hipótese de receber apoio e por isso cá estou", acrescenta ainda.
Todas as crianças do projecto são seleccionadas através de uma triagem feita em escolas da rede pública nacional de acordo com um método próprio, o IHC - Índice de Hierarquia de Complexidade. São três os critérios de escolha fundamentais: problemas de saúde oral graves, poucas possibilidades económicas e idade até aos 18 anos.
O projecto conta com o apoio da Direcção-Geral de Saúde e acaba por servir de complemento ao cheque-dentista. "Este programa é para crianças até aos 12 anos. O nosso projecto é a partir dos 12 anos, para as crianças com maiores dificuldades", justifica Virgínia Milagre. Por isso, de alguma forma, complementam-se.
Será através de Portugal que o Dentista do Bem se "estreará" na Europa. Mas esta organização não governamental já tem provas dadas em poucos anos de existência: já ajudou mais de 12 mil crianças e jovens na América Latina, envolvendo uma rede de mais de 7000 dentistas voluntários.
Diário de Notícias

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