Os índices de cárie dentária, no nosso país, são assustadores. A meta apontada pela Organização Mundial de Saúde para o ano 2000 era a de que Portugal atingisse um índice de cariados, perdidos e obturados (CPO) de dois em cada criança. Isto significa que, se tivessem sido toma-das medidas adequadas de saúde oral, já devíamos estar abaixo dos dois, em vez dos actuais três a quatro dentes estragados.
A situação ainda é mais grave quando se sobe no escalão etário. "Aí, o índice é tão elevado que nem vale a pena citá-lo. O número de dentes em mau estado já ultrapassa a barreira do que é comportado em termos de prevenção", afirma o Professor Acácio Jorge, presidente da Associação Portuguesa de Saúde Oral (APSO). "Os dentes lesionados não se curam. É possível substituir a textura dentária por materiais de obturação, mas a sua solidez e durabilidade são muito limitadas. Esta é a razão pela qual as lesões dentárias sofridas durante a infância e a juventude têm efeitos para o resto da vida. Quanto menos problemas com os dentes tiver um adolescente ao terminar a escolaridade obrigatória e quanto menos dentes tratados, menores serão os custos ligados à manutenção do bom estado da sua dentição durante o resto da sua existência", salienta aquele especialista em Medicina Dentária Preventiva.
O problema parece estar no facto de se praticar, em Portugal, "uma saúde oral de péssimo nível". Isto é, continua a combater-se a doença, em vez de se apostar na prevenção. "Países como a Noruega, a Dinamarca, a Suíça, o Canadá ou o Japão levam-nos 40 anos de avanço", acrescenta Acácio Jorge.
Os problemas de saúde oral são, de um modo geral, perfeitamente evitáveis. As crianças não são capazes de avaliar as consequências de um comportamento inadequado, tanto no que diz respeito à alimentação como à higiene oral. A atitude dos mais pequenos depende da boa vontade dos adultos, que devem assumir a responsabilidade que ainda falta às crianças. É sabido que os pais e educadores desempenham um papel importante na sensibilização das crianças para os cuidados dentários, mas isso não é suficiente para alterar o cenário "catastrófico" que se vive no nosso país.
Os profissionais do sector defendem a criação de programas de saúde oral autárquica. "É conhecido, em muitas cidades da Europa e não só, o elevado sucesso dos programas de saúde oral de responsabilidade municipal. Comparando com os órgãos do poder central - o Ministério da Saúde ou a Direcção-Geral de Saúde -, a autarquia, estando mais próxima do indivíduo, consegue uma resposta mais adequada e eficaz às suas necessidades."
Uma das formas de actuação municipal podia ser a criação de equipas de saúde oral que procedessem ao rastreio da cárie dentária e das doenças da boca da população abrangida, de forma sistemática e regular, e encaminhar devidamente as necessidades de tratamento. Uma tarefa que pode ser feita pelos médicos dentistas a nível autárquico, nos centros de saúde, nos hospitais e nos consultórios privados. "Tais acções não devem ser confundidas com campanhas de marketing frequentemente desenvolvidas por fabricantes de dentífricos ou de outros produtos da área da medicina dentária", sublinha Acácio Jorge.
De acordo com o presidente da APSO, o Ministério da Saúde tem, ao longo dos anos, "preterido e esquecido" este sector da saúde. "Não há mais justificação para que assim continue, uma vez que há 4300 médicos dentistas em Portugal e as faculdades continuam a formar mais." A Ordem dos Médicos Dentistas criou um grupo de trabalho para estudar e desenvolver um programa de saúde oral autárquica. Uma das propostas avançadas implica a inscrição voluntária das crianças em idade escolar no Programa de Saúde Oral. Ao inscrever-se, a criança fica automaticamente abrangida por todas as medidas preventivas, incluindo eventuais tratamentos dentários de que necessite, mas deverá cumprir um certo número de regras, tais como a visita regular ao médico dentista e a aplicação de determinados tratamentos preventivos indicados.
Estas visitas e estes tratamentos serão registados num boletim dentário (que poderá estar contido no Cartão de Saúde), cuja actualização será obrigatória para que cada criança possa manter-se inscrita no programa. Cada sessão de rastreio, controlo ou tratamento será paga no acto pelos encarregados de educação, que serão reembolsados de imediato nas tesourarias da respectiva Câmara Municipal. Estes programas começarão pelas crianças, mas irão abrangendo progressivamente todos os restantes grupos da população. Para cada grupo, o Programa de Saúde Oral terá a estratégia e a metodologia adequada.
Uns dentes saudáveis são meio caminho andado para um sorriso bonito e agradável. A primeira regra é simples e tem a ver com a higiene. Os dentes devem ser escovados a seguir às refeições, suavemente, sobre todas as superfícies internas e externas, com movimentos circulares e de vaivém ao longo da gengiva. A escova deve ser substituída de três em três meses. Recomenda-se também o uso regular do fio dental, que permite remover o que a escova não alcança. Um hábito saudável, que poderá praticar antes de deitar.
A alimentação é outro factor importante para a saúde dentária. Evite os excessos de açúcar (todos sabemos como são prejudiciais para os dentes) e reforce a sua dose diária de legumes, peixe e produtos lácteos.
E como no prevenir é que está o ganho, há que dar especial atenção aos mais novos. Se o bebé gostar de chucha, não a passe em açúcar, mel ou doces, pois potenciam as cáries. Use apenas chuchas ortodônticas e adequadas à idade. Evite também pendurar cordões ou fraldas de pano na chucha, pois o peso deforma a arcada dentária. Lave e ferva a chucha com frequência, uma vez que a boca é a maior porta de entrada de infecções no corpo humano. Finalmente, ao escolher uma chucha, tenha em conta que o aro deve acompanhar a curvatura da face do bebé, para um fechamento labial mais adequado, e deve ter orifícios para ventilação lateral. É ainda sabido que o uso prolongado da chucha pode influenciar o desenvolvimento da arcada dentária. Há o risco de os dentes nascerem tortos e projectados para a frente ou de os dentes superiores e inferiores não encaixarem. Por isso, os médicos estabeleceram os dois anos de idade como limite para o uso da chucha, defendendo que ela seja retirada, no máximo, até essa idade.
Maria do Rosário Lopes