Com mais de 20 minutos de atraso, Joaquim Barbosa, director do Centro de Saúde de Espinho, deu início à apresentação do Programa para a Saúde Oral para o ano lectivo de 2007/2008. O director começou por falar das grandes mudanças ocorridas na saúde nos últimos tempos e dos resultados satisfatórios do programa da Saúde Oral desde o seu início, acrescentando que o grande objectivo deste programa é o cumprimento de metas nacionais e europeias.
O programa de Saúde Oral envolve várias entidades do concelho de Espinho, entre elas o Centro de Saúde, o Lions Club, as diferentes autarquias de Espinho, vários dentistas particulares, as escolas do concelho e a Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto.
O programa de Saúde Oral inclui três grandes fases: a higienização, o rastreio e o tratamento. Na fase da higienização, o objectivo é, segundo a coordenadora do programa, Margarida Albuquerque, “ensinar as crianças a lavar correctamente os dentes”, oferecendo-lhes, ainda, pasta e escova. Nesta fase da higienização é ainda frequente serem organizadas sessões de esclarecimento que pretendem envolver “não só os alunos, mas também os professores e os pais”.
Este ano, o programa inclui rastreio e tratamento de três tipos de problemas ligados à saúde oral nas crianças espinhenses do pré-primário, primeiro e segundo ciclo. Entre as doenças rastreadas incluem-se a cárie, a fluorose e a doença periodontal ou periodontite.A última, mas talvez a mais importante fase do programa é o tratamento, que se efectua desde 2001. No ano passado, o programa da Saúde Oral tratou 336 crianças com ajuda estatal e outras 16 contando com o subsídio de autarquias espinhenses.
Margarida Albuquerque deixou bem claro que, “em termos genéricos, o trabalho é favorável” e isso vê-se quando constatamos que “as crianças de Espinho, em comparação com o resto do país, estão muito melhores. O sonho de há 18 anos atrás valeu a pena”. Desde 2001 que a Saúde Oral abrange as crianças do 2º ciclo, e desde 2004 as do pré-escolar, porque inicialmente o programa só contemplava os alunos de primeiro ciclo. Os valores do Programa Saúde Oral de 2007 são, segundo a coordenadora do projecto, “bastante satisfatórios”.
Ao longo dos anos, o valor de CPO, o indicador de cárie dentária, tem vindo a diminuir. Tanto que, a nível do segundo ciclo, é de 1,3 por cento, enquanto que a média nacional se situa nos 2,95 por cento. Para 2020, a meta europeia é atingir um índice de CPO menor do que um. Ora, Espinho já não está muito longe desse objectivo e ainda faltam 13 anos para lá chegar.
Em termos europeus, Espinho também está bem colocado a nível de saúde oral, porque a meta estabelecida no continente europeu propunha que em 2007 apenas 50 por cento das crianças entrassem na escola com cárie dentária. Espinho está muito próximo desse valor, com cárie detectada em 54% das crianças da pré-primária.
A discrepância entre os valores obtidos na cidade de Espinho e o resto do país volta a ser evidente quando falamos na cárie ao nível do primeiro ciclo. Enquanto que o programa de Saúde Oral espinhense registou um índice de CPO de 0,7 por cento nas dentições definitivas, o valor nacional situa-se entre os 2 e 3 por cento.
Quanto ao rastreio da fluorose e das doenças periodontais, não há estudos nacionais ou europeus com que se possa comparar os valores de Espinho. No entanto, os valores da fluorose indicam que na pré-primária, cinco por cento das crianças têm problemas de excesso de flúor, no primeiro ciclo seis por cento e no segundo ciclo 28 por cento. Já as doenças periodontais, como a gengivite e o tártaro, registam um total de 28 por cento de todas as crianças rastreadas.
O primeiro passo para o nascimento do programa de Saúde Oral deu-se no início dos anos 90 quando Dulce Santos foi convidada para apresentar uma palestra no Hotel Praia Golf, em Espinho, no âmbito da medicina dentária. A ideia, que Dulce Santos já tinha há muito tempo, era promover um programa de saúde oral dirigido às crianças. Na altura, e segundo a ex-secretária da Associação Portuguesa de Saúde Oral, “uma série de circunstâncias felizes criaram um envolvimento propício para a continuação do programa de saúde oral”. Houve, desde logo, “um interesse pedagógico”, mas para a sua concretização, acrescenta Dulce Santos, era “necessária a colaboração de mais entidades”.
A exigência foi sendo cada vez maior e os “resultados foram sendo cada vez melhores”. Margarida Albuquerque concorda que o programa começou por “carolice”, mas que actualmente é algo muito bem organizado e que, para assegurar o seu funcionamento correcto, “o trabalho não pode ser feito sem a colaboração de todos”. A coordenadora do programa acredita que a maior colaboração dos pais era essencial, porque muitas vezes os educadores, “que são no fundo os maiores interessados, não aproveitam a oportunidade dada pelo programa” e faltam mesmo muitas das vezes às consultas marcadas para os filhos, não dando assim continuidade aos rastreios e aos próprios tratamentos.
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Aqui e ali por carolice. Até quando ? Estamos em Portugal (país membro da União Europeia) mas, na saúde oral e especialmente no apoio a crianças e jovens, as coisas ainda surgem por carolice. Infelizmente.
Gerofil