quarta-feira, 6 de junho de 2007

168) Saúde oral nos centros de saúde

As últimas semanas trouxeram algumas novidades à inépcia que se tem vivido acerca da falta de capacidade dos Centros de Saúde e Hospitais darem resposta às necessidades de saúde oral das populações. A hipótese da presença de médicos dentistas nos Centros de Saúde foi de novo levantada e apoiada por diferentes personalidades da área da Saúde.
É um facto que sucessivamente todos os governos e políticos presentes no Parlamento têm feito questão de não levantar muito o problema. Excepção feita ao Bloco de Esquerda que ainda recentemente apresentou uma proposta para integração dos médicos dentistas no SNS, que foi liminarmente recusada.
Mas, realmente a (não) política seguida até agora é escandalosamente irresponsável e com repercussões de qualidade de vida e de aumento de custos em saúde perfeitamente desproporcionadas.
Parece que finalmente estão criadas as condições para que se comece a fazer sentir uma pressão da opinião pública e da comunicação social sobre este tema. Até a própria Organização Mundial de Saúde deu orientações a todos os países no sentido de dar prioridade à saúde oral das suas populações. A opinião sobre este assunto solicitada recentemente por diferentes órgãos de comunicação social ao Bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas, Dr Orlando Monteiro da Silva, é paradigmática das repercussões negativas que ausência de médicos dentistas no SNS tem tido sobre a população.
No nosso país, são cada vez mais as vozes que se levantam contra o facto de não haver médicos dentistas nos Centros de Saúde. De um lado temos as famílias com menor capacidade económica que não têm qualquer possibilidade de recorrer ao médico dentista privado, para resolver os seus problemas. Do outro, são os professores das escolas, que falam do absentismo e referindo que as crianças cada vez têm os dentes piores e que vêm para as aulas com imensos problemas, sem que eles saibam como os encaminhar para verem resolvidos esses problemas.
Também os médicos de família têm vindo a sentir cada vez mais dificuldade em dar resposta aos problemas de saúde oral com que os seus utentes se confrontam. A nossa população tem mesmo necessidade de ter médicos dentistas no SNS para dar resposta às suas necessidades de tratamento!
A desculpa de que a inclusão duma valência como a medicina dentária no SNS acarretaria custos acrescidos para o Ministério da Saúde é pouco fundamentada. Inclusivamente, os custos envolvidos nesta falta de apoio de saúde oral por parte do SNS são incalculáveis, pois teríamos que somar os dias de baixa dos trabalhadores e falta às aulas dos alunos por problemas dentários, o recurso ao serviço de urgência dos hospitais por rotina com decisões, exames e medicações nem sempre apropriadas, as repercussões a nível da saúde geral com agravamento de determinadas doenças ou início de outras, entre um número interminável de implicações.
Como já referi várias vezes, considero que a disponibilização de cuidados de saúde oral às populações no âmbito do SNS é uma medida fundamental, num país com as carências que mais de metade da população evidencia. A actual dinâmica do Ministério da Saúde, com a abertura das unidades de saúde a parcerias público-privado, parece ter criado outro tipo de oportunidades e de possibilidade de decisão, muito longe dos jogos dos lobbies anti-médicos dentistas no SNS. Estas estruturas, mais viradas para a optimização de recursos e melhoria da capacidade de resposta às necessidades da população, vão certamente dar passos sólidos e determinantes para que um anseio mais que legitimo da população possa vir a ser correspondido a curto-médio prazo.
PAULO MACEDO

Sem comentários: