sexta-feira, 18 de agosto de 2006

3) Saúde oral em Portugal: Mais do que uma questão de mentalidade

Cerca de 60 por cento da população portuguesa não tem possibilidades económicas de tratar os dentes, apontam os números, espalhados pelas páginas dos jornais nacionais. E porque razão quem não tem dinheiro para tratar os seus dentes não o poderá fazer com comparticipação (ou de modo gratuito) por parte do Estado?
Segundo dados apresentados pela Ordem dos Médicos Dentistas, durante a conferência anual realizada em Dezembro, um em cada sete hospitais públicos não tem dentista e a situação agrava-se nos centros de saúde, onde só dez por cento das unidades dispõem daqueles especialistas. Não será, por isso, difícil de concluir que faltam dentistas no Sistema Nacional de Saúde. E, por tal, também se justifica que 98 por cento dos especialistas exerçam a sua actividade no sector privado.
À parte das lutas que a OMD tem vindo a travar com o Ministério da Saúde no sentido da contratação de dentistas pelo SNS, para que os cuidados com a saúde oral sejam acessíveis a todos, a realidade é outra. Grande parte dos portugueses só recorre a um dentista quando a dor de dentes lhes transtorna o dia-a-dia. Jorge Costa, médico-dentista e professor na Faculdade de Medicina Dentária de Lisboa, conhece bem esta «infeliz» realidade. São muitas as pessoas que entram no seu gabinete quando pouco se pode fazer. «Está instituído – e de um modo completamente errado - que é um luxo tratar dos dentes. Há quem possa ir ao dentista... e os outros?» A esta pergunta, Jorge Costa, responde de imediato: «os outros vão às urgências dos hospitais arrancar os dentes, ou seja, resolver o problema quando não há solução.» E aponta: «A saúde oral não é considerada um problema de saúde pública. Continua a ser vista como uma questão estética, do tipo: quem quiser trate dos seus...»
Para este especialista, entrevistado pela MNI-Médicos Na Internet- , os números reflectem uma realidade típica de um país do Sul da Europa. Mas também retrata uma desresponsabilização por parte do Governo. «Como de costume estamos na cauda da Europa no que diz respeito aos cuidados de saúde primários. O Governo português ainda não entendeu que é muito mais barato para a Nação prevenir que tratar.» Isto porque, explica o especialista, a medicina dentária é totalmente privada. «Se o Governo tivesse que fazer contas, para saber o dinheiro que teria de pagar no tratamento das doenças que surgem, então aí começaria a preocupar-se com o tratamento antes que os problemas surgissem.»É de salientar que as campanhas de sensibilização para a Saúde Oral em Portugal têm sido feitas pelas faculdades de medicina dentária – que analisam os doentes e promovem a higiene oral junto dos mais pequenos, entre outras funções – e por entidades privadas, associadas a uma rede de especialistas, que em conjunto promovem o «Mês da Saúde Oral», oferecendo a todos os inscritos um exame gratuito.

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