segunda-feira, 23 de novembro de 2009

408. Orlando Monteiro da Silva X Fernado Guerra

As presentes entrevistas foram retiradas do site Saúde Oral; este blogue tem o mesmo nome que o site mas é completamente independente do mesmo e apenas o nome coincidem por acaso.
Relativamente às eleições para o Bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas, o Blogue Saúde Oral é completamente independente e equidistante às duas candidaturas, pelo que no caso de ser detectada qualquer infracção a esta política de independência, agradece-se a imediata comunicação via correio electrónico para tempogero@gmail.com .
Por fim, fica o agradecimento da publicação das entrevistas ao site Saúde Oral, ao qual se deseja sinceras felicidades e a continuação do vosso serviço pela saúde oral em Portugal.
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Defensor de uma Ordem dos Médicos Dentistas «independente e livre de outros interesses além dos directamente relacionados com o exercício da profissão», o candidato a líder dos mais de sete mil dentistas inscritos na Ordem acredita que o futuro da saúde oral, em Portugal, passa pela criação de parcerias público-privadas que potenciem as estruturas já criadas ao mesmo tempo que se prestam cuidados à população dentro do Serviço Nacional de Saúde.
Saúde Oral - Como surgiu o desafio de se recandidatar a bastonário da OMD?
Orlando Monteiro da Silva – Surgiu depois de reflectir e após ter recebido o apoio de um leque enorme de pessoas que me passaram uma espécie de “cheque em branco” e que, embora saiba que nem sempre é fácil, deram a cara no site da candidatura. O grupo de apoiantes reúne já mais de 750 pessoas que fizeram sentir um apelo único para que protagonizasse o projecto da candidatura. Senti com esse apelo uma enorme liberdade e responsabilidade ao mesmo tempo, até porque houve também um movimento muito forte por parte dos jovens médicos dentistas. Foram estes que me convenceram mesmo a avançar com a decisão, sem querer aqui colocar em causa o apoio nem o prestígio de ninguém.
Saúde Oral - No entanto, há também um problema crescente de excesso de médicos dentistas em Portugal. Que medidas propõe para resolver esta questão?
Orlando Monteiro da Silva - Não sou um bastonário de gabinete ou de opereta e contacto regularmente com os profissionais no terreno. Apercebi-me bem das expectativas que eram em mim depositadas por estes jovens recém chegados à profissão e entendo que há claramente um excesso de médicos dentistas no nosso país, com muitos a irem trabalhar para o estrangeiro. Não tenho meias palavras sobre isso: é uma pena que se esteja a perder este potencial e pessoas qualificadas. Além disso, é uma pena para o país que se perca assim o investimento realizado na formação destes profissionais.
Acho que efectivamente os mais jovens têm tido dificuldades em afirmar-se em Portugal e que é necessário que haja uma grande representatividade e que sejam escutados os seus problemas, como tem acontecido no site, com questionários, seleccionando grupos de discussão e tentando fazer com que as suas propostas possam obter resposta adequada por parte da OMD.
O que quero frisar é que esta candidatura é um novo projecto que promove novas ideias para os próximos três anos e, obviamente, que estaremos atentos aos problemas desta franja da profissão que tanto nos apoiou. Acho também que devemos adaptar a formação de médicos dentistas às necessidades do país e propomos medidas concretas quanto a isso, porque as faculdades vivem do número de alunos, uma vez que disso depende o seu financiamento.
Saúde Oral - Não vê então com bons olhos a abertura de mais uma faculdade de Medicina Dentária anunciada para Lisboa?
Orlando Monteiro da Silva - Sei que há pulsões nesse sentido, que a Ordem tem conseguido deter com o diálogo privilegiado que tem com o Governo – não apenas com este, mas com qualquer Governo -, fruto do prestígio que tem adquirido ao longo dos anos. Considero que, em muitos casos, é mais importante aquilo que se evita que se faça do que o que se faz. Estamos empenhados em que a postura em relação à abertura de novas faculdades permaneça e até que se reduza o número de alunos de Medicina Dentária, pois consideramos que melhoraria a qualidade do ensino.
Além disso, apregoamos uma maior aposta no ensino pós-graduado e que haja um estágio voluntário remunerado, no plano dos cursos de Bolonha, nas faculdades, hospitais, centros de saúde e em clínicas privadas, que dê aos jovens médicos dentistas maior facilidade de entrada no mercado de trabalho e uma experiência acrescida nesse contacto com a profissão.
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Com o lema “Uma Ordem por Todos!”, a lista B assume-se confiante na vitória. Das dez linhas de força pelas quais se vai reger, destaca-se a proposta da criação de um serviço de atendimento permanente de medicina dentária, assegurado por consultórios e clínicas privadas, com urgências 24 horas por dia e a criação de um Boletim de Saúde Oral distribuído logo à nascença. Fernando Guerra acusa ainda a actual direcção da OMD de ter assumido uma atitude de «subserviência aos diversos poderes instituídos» e promete reformular os cheques-dentista cujo modelo actual considera um contra-senso, uma vez que «não traz qualquer benefício a longo prazo».
Saúde Oral – O que motivou a sua candidatura a bastonário da OMD?
Fernando Guerra – Foi o acreditarmos que era altura de a Ordem se renovar e revitalizar. Achamos que a experiência de vida que temos nos preparou para este desafio e conseguimos mobilizar um conjunto de colegas que constituem uma equipa com a necessária experiência e competência a todos os níveis, para poder servir a OMD da forma que entendemos mais conveniente.Essa revitalização é fundamental e é necessário que estas instituições tenham a capacidade de se renovar e de abrir portas a novas ideias e energias.
Saúde Oral - Porquê o lema “Uma Ordem por Todos!”?
Fernando Guerra - Traduz muito daquilo que são as nossas convicções. Achamos que a OMD deve reorientar-se para as questões profissionais, dar a ênfase particular às dificuldades que os médicos dentistas sentem e a nossa acção, enquanto Ordem, será recentrar a atenção da instituição no médico dentista. Daí que estejamos convictos que não haveria melhor lema para espelhar essa vontade.
A equipa é constituída por médicos dentistas que trabalham diariamente nos seus consultórios e, por isso, temos noção da realidade e dos problemas que persistem. Queremos mudar este cenário e dar o nosso contributo para mudar o caminho que vem sendo seguido.
Saúde Oral - Depreendo pelas suas declarações que há alterações que a OMD deve introduzir no seu funcionamento. Que mudanças pretendem introduzir?
Fernando Guerra - Como já referi, as instituições devem revitalizar-se periodicamente. Para isso, propomos um enquadramento diferente na forma de abordar os problemas, através de uma reorientação para as questões profissionais, também uma abertura grande do papel do médico dentista na sociedade e termos a capacidade de constituir a OMD como um verdadeiro catalizador num plano nacional de saúde integrado e que tenha uma participação activa dos médicos dentistas.
Com isto queremos dizer claramente a integração dos médicos dentistas a todos os níveis nessa estratégia de saúde oral. Elaborámos um programa de acção que tem inúmeras propostas. Um conjunto de medidas que apresentamos no âmbito desse tal plano articulado que queremos que passe pela integração dos médicos dentistas nas equipas de Saúde Escolar, criando desde logo uma abordagem diferente da que tem sido defendida, que se estenderá a uma integração nos centros de saúde. Queremos que sejam os médicos dentistas a instituir ao nível das comunidades as estratégias adequadas, assim como as boas práticas e também que possam ser os motores de uma reformulação, que deverá ser imediata e bastante pertinente, do cheque-dentista.
Saúde Oral - Defendem portanto a integração do médico dentista no SNS?
Fernando Guerra - Sim, pretendemos é uma integração a vários níveis. A integração do médico dentista no SNS é necessária para uma melhoria efectiva da saúde oral em Portugal. Assistimos, ano após ano, à implementação de programas de saúde oral que não têm uma consequência efectiva nessa vertente e que têm vindo de uma forma atentatória a considerar os médicos dentistas apenas como mão-de-obra prestadora de cuidados, o mais baratos possível, e que atenta contra a sua dignidade profissional.Somos completamente contra esse estilo de abordagem.
Pelo contrário, pretendemos que os médicos dentistas sejam motores a nível das comunidades na implementação de estratégias de saúde oral e a OMD deve ser catalizadora dessa ideia a nível nacional.

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