quarta-feira, 25 de março de 2009

338. Mais de 200 mil crianças abrangidas com cheques-dentista

Mais de 200 mil crianças com sete, dez e 13 anos que frequentam o ensino público vão ser abrangidas pelos cheques-dentista, anunciou hoje o secretário de Estado da Saúde, Manuel Pizarro. A portaria que alarga os cheques-dentista às crianças foi publicada hoje em Diário da República e tem como objectivo essencial a preservação da dentição definitiva.
Em declarações à Agência Lusa, Manuel Pizarro explicou que vão ser abrangidas por esta medida 210 mil crianças. "Todas as crianças que completam este ano sete, dez anos e 13 anos e que frequentam o ensino público", sublinhou. Haverá ainda 20 mil cheques para crianças do ensino pré-escolar, com quatro e cinco anos, que sejam indicadas pelos seus médicos de família, revelou à Lusa.
Segundo Manuel Pizarro, as crianças com sete e dez anos receberão no máximo dois cheques e os de 13 anos três. "Se tomarmos como referência o que está a acontecer com as grávidas que recorrem ao Serviço Nacional de Saúde e que recebem cheques-dentista desde Maio de 2008, cada cheque dá para fazer em média dois tratamentos", justificou.
A medida insere-se no Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral (PNPSO), que foi elaborado pela Direcção-Geral de Saúde e pelas organizações profissionais que representam os médicos dentistas e os estomatologistas. "Eu julgo que todos reconhecemos que uma das limitações do Serviço Nacional de Saúde era o acesso à saúde oral", afirmou o secretário de Estado, acrescentando: "Pretendemos, de uma forma equilibrada e tecnicamente sustentada, ir aos poucos introduzindo programas de saúde oral que valorizem o Serviço Nacional de Saúde".
Em 2008, foram as grávidas e os idosos abrangidos por esta medida, que em 2009 foi alargada às crianças. "Isto é para ter continuidade que seja sustentável do ponto de vista técnico e financeiro e que permita que os portugueses possam sorrir com um sorriso mais bonito", acrescentou.
Os utentes beneficiários têm liberdade de escolha dos médicos estomatologistas e dentistas aderentes, que constam de uma lista nacional disponível nas unidades funcionais dos agrupamentos de centros de saúde e no sítio electrónico
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Mais uma gota de água para colmatar a precariedade e o abandono da valência da saúde oral no nosso país. Depois de um vasto estudo sobre a saúde oral (Estudo Nacional de Prevalência das Doenças Orais 2008), surgem medidas desgarradas e sem qualquer sentido para combater e resolver eficazmente o problema; parece mesmo que afinal não valeu a pena o esforço e o dinheiro gasto naquele estudo, pago pelo dinheiro dos contribuintes.
Em vez de efectuar um projecto inovador e de eficácia, de acesso a todas as crianças e adolescentes, com base naquele estudo, valorizando a qualidade e não os números, voltamos a assistir a iniciativas governamentais de pura demagogia e propaganda em véspera de eleições, pois o que interessa são números e mais número, sem qualquer interesse pela qualidade, durabilidade e sustentabilidade das medidas tomadas.
Espera-se que as entidades profissionais ligadas ao sector da saúde oral saibam demarcar-se destas medidas demagógicas, não alinhando na distribuição de rebuçados às crianças, propondo políticas de saúde oral alternativas e que sejam eficazes e eficientes e que tenham única e exclusivamente o interesse das crianças e jovens portugueses.

2 comentários:

Anónimo disse...

Sou médica dentista e trabalho num centro de saude a atender só crianças dos 3 aos 18 anos. Estou em risco de ficar desempregada devido à criação do famoso cheque dentista que não é mais do que atirar areia para os olhos do nosso povo... uma criança com 8 anos p.ex. terá de esperar até aos 10 para tratar um abcesso?? uma criança com 5 anos já com os 1ºs molares terá de esperar até aos 7 para selantes??

Ana Rita Dias - Psicóloga Clínica disse...

Trabalho como psicóloga num agrupamento de escolas inserido num bairro social muito problemático. Tenho lá alunos que tenho a clara perceção que quando chegarem à idade adulta, não terão metade dos dentes, ou seja, a prevenção nestes jovens já era.
Necessitam de inúmeros tratamentos, mas os adultos responsáveis por eles reclamam não conseguir pagar as consultas. Digo adultos, pois muitos não têm pais, e muito menos alguém que desde cedo pudesse considerar a saúde oral como uma prioridade a par de outras.
Com 2 ou 3 cheques dentistas, como vão estes alunos fazer os tratamentos que necessitam? Já para nao falar da quantidade de jovens que já ultrapassaram os 13 anos...
Não há nenhuma forma de apoio social a estas pessoas?