Educar para mudar
É uma questão que talvez poucos coloquem a si próprios. A Assistência Médica Internacional (AMI), por exemplo, só tem registo de um médico estomatologista que tenha participado em campanhas de voluntariado dentro daquele organismo e a associação "Médicos do Mundo" nem sequer tem nomes dentro deste espectro profissional.
Ainda assim, existem diversas actividades às quais dezenas de médicos dentistas acabam por aderir. Só que esta é uma realidade que não se verifica com frequência. «O Sistema Nacional de Saúde (SNS) ao não abarcar esta classe, obriga a que o médico dentista seja forçado a operar no sector privado e, por isso, ou ele está no consultório ou então não consegue rendimentos para vive», explica Jacinto Durães. O gestor do "Ambulatório da Saúde Oral", da Universidade Fernando Pessoa, reconhece que, «no geral, a cultura voluntária é fraca, comparada com o que acontece no estrangeiro». E até a solidariedade entre pares parece não existir. «Muitos pensavam que seríamos concorrentes», segreda, em relação a críticas que recebeu depois de lançar o projecto que coordena.
Cassiano Scapini explica que esta atitude dentro da própria classe é criada logo na Faculdade. «O ensino em Portugal está assente numa filosofia que não se baseia na prevenção. Cientificamente, sabe-se que o atendimento curativo não se traduz numa melhoria das necessidades. Só a prevenção. E, sendo esta uma questão de saúde pública, deve-se mudar a formação académica. Talvez, depois, tenhamos mais profissionais a participar em projectos de cariz social», opina o brasileiro, radicado em Portugal há 18 anos. «A Universidade tem que se abrir à comunidade», resume.
Apesar de reconhecer a importância do voluntariado, Cassiano Scapini considera que «a discussão é muito mais profunda. Temos que chamar, para dentro da comunidade, estas questões que têm a ver com a forma como as faculdades ensinam. Enquanto isso não acontecer, continuaremos a ter, somente, iniciativas pioneiras».
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