Pagar uma consulta de dentista a 20 euros e fazer tratamentos dentários por um preço 50 a 60 por cento mais barato do que o praticado no sector privado faz com que muitos moradores na freguesia de S. Domingos de Benfica, em Lisboa, tratem da boca. Asseguram que de outra forma não cuidavam da saúde oral por não terem dinheiro para pagar os preços pedidos pelos estomatologistas de consultórios particulares.
O Gabinete Clínico do Bairro do Calhau, inaugurado há três semanas, é um projecto da Junta de Freguesia de S. Domingos de Benfica e nasceu da necessidade da população em aceder a algumas especialidades médicas, especialmente à medicina dentária. Além da estomatologia, o Gabinete Clínico presta consultas de clínica geral, serviços de enfermagem e de fisioterapia. Nestes dois últimos casos podem ser prestados cuidados no domicílio, mas a deslocação tem um custo acrescido de três euros e meio.
A procura da assistência clínica, sujeita a marcação prévia, tem sido grande e é aberta à população lisboeta, não apenas aos residentes na freguesia. Os utentes com o Cartão Freguês (custa 2,5 euros) beneficiam de descontos na assistência médica e no comércio aderente.
MEDOS PASSADOS - O médico dentista Pedro Melo e Castro não tem tido mãos a medir, apesar de se estar em período de férias. “Uma percentagem muito elevada da população, cerca de 95 por cento, não tem acesso aos cuidados da saúde oral no Serviço Nacional de Saúde e os resultados vêem-se nos dentes estragados ou na falta de dentes.”
Melo e Castro sublinha um factor que tem mantido afastados dos gabinetes médicos muitos portugueses: “Muita gente diz ter medo de ir ao dentista, o que revela episódios traumáticos do passado. Todavia, as técnicas evoluíram e hoje não se sente o tratamento dentário.”
Quem se mostra satisfeito com o êxito deste projecto, ainda em fase inicial, é o seu promotor, o presidente da Junta de Freguesia, Rodrigo Gonçalves, eleito pelo PSD. “Decidimos avançar com estes cuidados de proximidade à população, destinados em especial aos idosos com carências económicas, porque ouvíamos as suas queixas de falta de acesso à saúde, na demora das consultas no centro de saúde e nos elevados preços no privado. O objectivo não é ter lucro, pretendemos que o projecto seja auto-sustentável.”
A Junta de Freguesia, a quarta maior de Lisboa, com 29 mil eleitores e cerca de 90 mil residentes, investiu no projecto oito mil euros.
DEPOIMEMTOS - "ESTOU MUITO SATISFEITA": Rosa Balão (68 anos) “Estou muito satisfeita com o tratamento dentário que estou a fazer. Se não fossem os preços baixos não podia arranjar os dentes porque não tinha dinheiro para pagar num consultório privado e não existe médico dentista nos centros de saúde. A minha família vem cá tratar-se.”
"EVITO PERDER OS DENTES": Elvira Videira (67 anos) “O meu tratamento consiste numa limpeza e arranjar quatro dentes. Vou pagar 175 euros mas se fosse num consultório privado estou certa que iria pagar mais. Como não podia suportar esse preço alto, o mais certo seria perder os dentes nos próximos anos, o que não vai acontecer com este tratamento.”
"VOU TER UMA BOCA BONITA": José Teles (56 anos) “Nunca gostei de dentistas mas mudei de opinião quando conheci o dr. Pedro Melo e Castro no Gabinete Clínico. Vou continuar com o tratamento e sei que no final vou ficar com uma boca bonita. Como estou desempregado, estes preços são acessíveis.”
Correio da Manhã (Cristina Serra)
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