Foi apresentado recentemente um
estudo sobre saúde oral que indica que 45 por cento das crianças portuguesas
com seis anos apresentam cáries dentárias. Um número elevado numa época em que
o cheque dentista e a existência de higienistas em meio hospitalar são já dados
adquiridos. O “Diário do Alentejo” quis saber como vão as bocas das nossas
crianças e ficou a saber que, apesar de ainda existirem problemas, o número de
crianças com problemas de saúde oral tem vindo a diminuir.
No Alentejo, e apesar de ainda
não estarmos a atingir as metas fixadas pela Organização Mundial de Saúde para
2020 (80 por cento das crianças aos 6 anos livres de cáries), entre o ano 2000
e 2014, a evolução é notória (passou dos 30,3 por cento, para os 67,4 por
cento).
No III Estudo Nacional de
Prevalência das Doenças Orais, que tinha como objetivo avaliar a prevalência e
as necessidades de tratamentos dentários nas crianças e nos adolescentes
portugueses, com o intuito de se delinearem programas estratégicos promotores
da saúde oral em todo o País, concluiu-se que, apesar dos problemas serem menores
do que em anos anteriores, existe ainda um grande grupo de crianças, com 12
anos, no nosso País, com problemas (47 por cento têm cáries dentárias). Este
número aumenta na faixa etária dos 18 anos, com 67,6 por cento de jovens com
cáries.
Delmira Regra, higienista oral,
gestora de saúde oral do Centro de Saúde de Beja, em entrevista ao “Diário do
Alentejo”, relata que o serviço de saúde oral da Ulsba (Unidade Local de Saúde
do Baixo Alentejo), que conta com quatro higienistas orais para 13 concelhos, tem
vindo a seguir alguns programas, de âmbito nacional, para promover e educar
crianças e jovens das escolas públicas nesta área da saúde. “Neste momento
continuamos a trabalhar com todas as diretrizes da Direção Geral da Saúde e do
Programa Nacional de Promoção da saúde oral (PNPSO). Desde 2014 que aplicamos
vernizes de fluor segundo a orientação nº 013/2013, da Direção-Geral da Saúde
(2013), que define para a aplicação semestral de verniz de flúor em crianças
com idade inferior a sete anos e que frequentem o jardim-de-infância”.
O Programa Nacional de Promoção
da Saúde Oral e o Sistema de Informação para a Saúde Oral são dois destes
programas. No primeiro caso, estão incluídos os já famosos cheques dentista.
Nesta matéria, desde 2009 a esta parte que o governo emite este tipo de
cheques, destinados a crianças em idade escolar. O primeiro cheque é atribuído
aos sete anos, o segundo aos 10 e o terceiro e último aos 13 anos. Cada criança
pode ser contemplada com mais do que um cheque por ano letivo, caso a sua
situação assim o exiga.
De acordo com os dados fornecidos
pela higienista, citando a Direção Geral de Saúde, na Administração Regional de
Saúde do Alentejo, foram emitidos quase 3 000 (2 977) cheques a crianças com
sete anos. Acontece que apenas 1 552 foram utilizados. No caso do segundo
cheque, atribuídos aos 10 anos, foram emitidos 4 144 cheques e utilizados 1
785, e o terceiro cheque (13 anos) foram entregues 3 655 cheques e usados
apenas 1 648.
O mesmo se tem passado com a
referenciação para recurso a um higienista oral. Isto é, na classe etária dos
sete anos, foram referenciados 1 036 crianças para este tipo de acompanhamento
mas apenas 742 se apresentaram na consulta. Na faixa etária seguinte, 10 anos,
foram selecionadas 267 crianças, mas apenas 162 usufruíram da consulta e dos
tratamentos. As crianças com 13 anos, escolhidas para um acompanhamento por
parte de um higienista oral, foram 683, mas apenas 379 beneficiaram da
consulta.
Para Delmira Regra: “como podemos
constatar, a taxa de utilização dos documentos que permitem o tratamento e a
prevenção fica aquém do expectável, no entanto há sempre espaço para a
melhoria, e daremos o nosso melhor para alcançar a meta dos 100 por cento”.
Ainda de acordo com dados
facultados por esta profissional de saúde, o número de crianças, até aos seis
anos, sem cáries dentárias tem vindo a aumentar de ano para ano. Em 2000 eram
apenas 30,3 por cento as crianças alentejanas livres de cáries. Em 2002/2006
este número subiu para 59,5 por cento e em 2013/2014 a percentagem ronda os
67,4 por cento. Neste último caso, trata-se de um valor superior à média
nacional, que é de 54,4 por cento.
Outro dado animador tem a ver com
o número de casos de crianças que aos 12 anos já mostravam problemas de saúde
oral. No ano 2000, no Alentejo, 5,49 por cento tinha problemas, ao passo que a
média nacional era de 2,95 por cento. Em 2005/2006 o número diminuiu para 1,77
por cento, e em 2013/2014 ronda o 0,75 por cento, abaixo da média do país que é
de 1,18 por cento e já muito abaixo das metas fixadas pela Organização Mundial
de Saúde para 2020, que é de 1,5 por cento.
O Serviço de Saúde Oral da ULSBA
existe desde outubro de 1994 e, para esta higienista oral, “em saúde pública,
os resultados não são imediatos. Há que saber esperar e trabalhar a promoção e
prevenção de forma inovadora. Foi o que aqui fizemos, sempre com a concordância
e apoio das diversas coordenações de saúde que passaram pelo nosso distrito”.
No início, o trabalho prendia-se
com “a dinamização e aumento do interesse da nossa população alvo com espaços
lúdico educativos, tais como a Feira do Dente, em 1999 e 2001, onde as crianças
eram convidadas através da escola, a participar com pósteres sobre esta
temática. Durante a semana da atividade participavam em jogos, assistiam a
pequenas peças de teatro. Como recompensa havia fruta exposta e eram convidados
a levar o que mais gostassem”.
Já em 2002 com o suporte
financeiro da Fundação Calouste Gulbenkian, foi iniciado o Projeto Leão, em
Aljustrel. “O objetivo deste projeto foi determinar se a escovagem, quando
realizada na escola com pasta fluoretada, e supervisionada pelos professores,
duas vezes por dia, seria ou não eficaz” na diminuição da incidência de cárie
dentária.
Seguiu-se o projeto Lancheira
Sorriso em Movimento, vencedor do prémio Missão Sorriso que tinha como objetivo
implementar boas práticas de saúde oral junto das crianças.
Neste momento “estamos a elaborar
uma peça de teatro, que tem como protagonistas o Lidador, figura emblemática de
Beja, a Lenda de Beja com a sua cobra monstro e o touro e a saúde oral, que
será apresentada no próximo ano às crianças do 1.º ciclo do ensino básico”. Por
outro lado, “esperamos realizar também, no próximo ano, as Jornadas de Saúde Oral
e a importância dos pares”, que terá como público-alvo pais, professores,
enfermeiros, médicos e profissionais de saúde oral.
Texto Natacha Lemos
* * *
Lamentavelmente os organismos públicos
ligados à saúde oral no Alentejo funcionam extremamente mal. Em pleno século
XXI não se aproveita metade dos cheque – dentistas disponíveis. Algumas
questões se colocam à ARS do Alentejo: porque é que só metade dos cheque –
dentistas são utilizados? Para onde vai o dinheiro dos cheque – dentistas que não
é utilizado? Porque não se fazem campanhas que permitam a utilização de 100 %
dos cheque – dentistas?
Não se justifica nem se deve
contemplar esta situação. Os problemas de incompetência são muito fáceis de
resolver; basta colocar as pessoas certas nos lugares certos e isto não se
passaria em Portugal. Alguém tem de ser responsabilizado pelo que se está a
passar.
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