Centenas de milhares de utentes portugueses encontram-se em lista de espera para
consulta de Medicina Dentária através do Serviço Nacional de Saúde, que conta
com apenas 58 médicos dentistas para a totalidade dos atendimentos. Os
profissionais reuniram este sábado em Aveiro, no 1º Encontro Nacional de
Medicina Dentária do SNS, para debater prioridades no atendimento.
O debate fez parte de uma
iniciativa do Ministério da Saúde teve como objetivo reunir vários médicos
dentistas que exercem no SNS, a fim de analisar as condições de trabalho, as
formas de acesso à consulta por parte dos utentes e a interligação entre os
diferentes níveis de cuidados. “Procuramos criar um consenso relativamente ao
tipo de utentes a quem se deve dar prioridade, porque, com os recursos que
existem, não há condições para atender todos”, afirmou o membro da organização
do evento, José Farias Bulhosa.
As dificuldades no acesso à
consulta sentem-se por todo o país: no Baixo Vouga, por exemplo, há 380 mil
utentes em lista de espera e em Lisboa, há médicos com 200 mil potenciais
utentes a aguardar vez.
Relativamente aos profissionais,
apenas existem 18 médicos-dentistas no continente, 11 na Madeira e 29 nos
Açores, todos sem carreira clínica, uma vez que o Estado os considera técnicos
superiores administrativos.
“A dimensão da solicitação da
patologia oral não é um tipo de consulta em que é feita pela primeira vez, e se
dá alta ao doente. Às vezes, é necessário o agendamento de várias consultas para
o tratar, mas não podemos dizer-lhe para vir passados cinco anos, porque a lista
é bastante grande”, explicou José Bulhosa.
Muitos dos utentes que esperam vez
no SNS são pessoas com fragilidade económica para aceder aos cuidados privados.
Apesar de haver equipamentos, estes encontram-se parados ou subutilizados por
não abrirem vagas para os profissionais.
Os médicos dentistas reconhecem a
atenção dada ao assunto por parte do Governo. Contudo, procuram evitar falhas já
assinaladas a nível dos projetos-piloto anunciados para o Alentejo e Vale do
Tejo. Para tal, pretendem que haja uma coordenação nacional e regional exercida
por pessoas que tenham sensibilidade para a Medicina Dentária, preferencialmente
formadas na área, a fim de chegar às realidades distintas de cada serviço.
Na passada semana, o bastonário da
Ordem dos Médicos Dentistas, Orlando Monteiro da Silva, já tinha apelado à
abertura de vagas dentro do serviço público: “Num país com tantas carências no
acesso à saúde oral, era de particular bom senso aproveitar os médicos dentistas
no subemprego, e colocá-los a servir a população mais necessitada, no âmbito do
SNS.”
Monteiro da Silva falou a
propósito do documento “Números da Ordem 2016”, que comprovou um aumento de 4,6%
no número de profissionais inscritos na Ordem, um crescimento considerado muito
acima das necessidades do país e da recomendação da OMS de um médico dentista
por cada dois mil habitantes”.
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