sábado, 1 de outubro de 2016

683. Dentistas pedem carreira no SNS dentro de um ano

Por dia 250 utentes estão a ter consultas nos centros de saúde. Há quem nunca tenha estado num dentista por falta de dinheiro. O bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas espera que dentro de um ano o Ministério da Saúde tenha criado a carreira que integra estes profissionais no Serviço Nacional de Saúde (SNS), dando regras e uma grelha salarial igual para todos. O projeto-piloto, criado pelo Ministério da Saúde, arrancou no início do mês em 13 centros de saúde das zonas de Lisboa e Vale do Tejo e Alentejo. Por dia, são 250 utentes com consulta, pagando sete euros de taxa moderadora.
"Se o ministério pretende ter dentistas a exercer no SNS, seja nos centros de saúde ou nos hospitais, dada a especificidade da profissão, tem de criar uma carreira de médico dentista. O compromisso para a sustentabilidade do SNS dá início ao processo. A avaliação da experiência piloto permitirá que sejam dados passos nesse sentido. Espero que dentro de um ano ela exista", disse ao DN Orlando Monteiro da Silva, bastonário dos Médicos Dentistas.
A questão já foi abordada com o ministério e para a Ordem é fundamental que a futura carreira garanta a independência do dentista, formação continua, trabalho em equipa, idoneidade dos serviços, grelha salarial igual para todos que tenha como referência o salário bruto de um médico assistente sénior. A referência dos 13 novos dentistas do SNS é a carreira de técnico de superior de saúde, com um salário bruto a rondar os 1500 euros. Mas os poucos que já estavam no SNS recebem menos.
O bastonário acredita que este "é um passo histórico" e que a tendência será alargar o projeto. O Ministério da Saúde explica que a expansão a outros centros de saúde está prevista, mas que "o número e abordagem do processo está dependente das avaliações que forem efetuadas". O projeto será avaliado em várias fases, a primeira no início de 2017.
Ana Filipa Neto é a dentista da Unidade de Saúde Familiar Monte da Caparica, um dos centros de saúde com projeto-piloto. Não tem dúvidas do sucesso da medida. "Quando chegam à receção contam como correu bem, que não deu nada. Uns dizem que foi a primeira vez que foram ao dentista porque não tinham condições económicas, outros porque têm várias complicações as clínicas privadas não as atendiam por receio", conta.
Os utentes que atende, todos os dias da semana entre as 8.00 e as 18.00, são referenciados pelos médicos de família. Quando a assistente lhes liga "ficam muito contentes e dizem que esperam por isto há muito tempo". O projeto vem dar cuidados de saúde oral a doentes crónicos: pessoas com diabetes, cancro, doenças renais, respiratórias ou cardíacas.
O trabalho de Ana começa com a pergunta se tem queixas ou dores de dentes, faz-se um raio-x, traça-se o diagnóstico e o plano de ação. Um trabalho em parceria com outros médicos como cardiologistas, quando em caso de cirurgia é preciso rever a medicação que o doente já faz. "Muitos ficam entusiasmados quando pergunto se podemos começar o tratamento na primeira consulta. Sentimos todos os dias que estamos a ajudar as pessoas", conta, recordando uma das histórias que mais a marcou até agora: "Uma senhora, na casa dos 50 anos, que teve vários problemas de saúde, fez radioterapia, nunca pode ir ao dentista por falta de condições económicas. Tinha uma infeção, tratamos dos dentes do lado esquerdo. Queria receitar paracetamol e disse-me que não valia a pena porque não conseguia pagar".
Para a médica dentista, faz todo o sentido alargar, no futuro, esta oferta a toda a população. "É preciso integrar mais médicos dentistas. Se isso se conseguir fico muito contente. Não são só os pacientes de risco que precisam de cuidados. É toda a população", afirma.
Ana Maia

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