Por dia 250 utentes estão a ter
consultas nos centros de saúde. Há quem nunca tenha estado num dentista por
falta de dinheiro. O bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas espera que
dentro de um ano o Ministério da Saúde tenha criado a carreira que integra
estes profissionais no Serviço Nacional de Saúde (SNS), dando regras e uma
grelha salarial igual para todos. O projeto-piloto, criado pelo Ministério da
Saúde, arrancou no início do mês em 13 centros de saúde das zonas de Lisboa e Vale
do Tejo e Alentejo. Por dia, são 250 utentes com consulta, pagando sete euros
de taxa moderadora.
"Se o ministério pretende
ter dentistas a exercer no SNS, seja nos centros de saúde ou nos hospitais,
dada a especificidade da profissão, tem de criar uma carreira de médico
dentista. O compromisso para a sustentabilidade do SNS dá início ao processo. A
avaliação da experiência piloto permitirá que sejam dados passos nesse sentido.
Espero que dentro de um ano ela exista", disse ao DN Orlando Monteiro da
Silva, bastonário dos Médicos Dentistas.
A questão já foi abordada com o
ministério e para a Ordem é fundamental que a futura carreira garanta a
independência do dentista, formação continua, trabalho em equipa, idoneidade
dos serviços, grelha salarial igual para todos que tenha como referência o
salário bruto de um médico assistente sénior. A referência dos 13 novos
dentistas do SNS é a carreira de técnico de superior de saúde, com um salário
bruto a rondar os 1500 euros. Mas os poucos que já estavam no SNS recebem
menos.
O bastonário acredita que este
"é um passo histórico" e que a tendência será alargar o projeto. O
Ministério da Saúde explica que a expansão a outros centros de saúde está
prevista, mas que "o número e abordagem do processo está dependente das
avaliações que forem efetuadas". O projeto será avaliado em várias fases,
a primeira no início de 2017.
Ana Filipa Neto é a dentista da
Unidade de Saúde Familiar Monte da Caparica, um dos centros de saúde com projeto-piloto.
Não tem dúvidas do sucesso da medida. "Quando chegam à receção contam como
correu bem, que não deu nada. Uns dizem que foi a primeira vez que foram ao
dentista porque não tinham condições económicas, outros porque têm várias
complicações as clínicas privadas não as atendiam por receio", conta.
Os utentes que atende, todos os
dias da semana entre as 8.00 e as 18.00, são referenciados pelos médicos de
família. Quando a assistente lhes liga "ficam muito contentes e dizem que
esperam por isto há muito tempo". O projeto vem dar cuidados de saúde oral
a doentes crónicos: pessoas com diabetes, cancro, doenças renais, respiratórias
ou cardíacas.
O trabalho de Ana começa com a
pergunta se tem queixas ou dores de dentes, faz-se um raio-x, traça-se o diagnóstico
e o plano de ação. Um trabalho em parceria com outros médicos como
cardiologistas, quando em caso de cirurgia é preciso rever a medicação que o
doente já faz. "Muitos ficam entusiasmados quando pergunto se podemos
começar o tratamento na primeira consulta. Sentimos todos os dias que estamos a
ajudar as pessoas", conta, recordando uma das histórias que mais a marcou
até agora: "Uma senhora, na casa dos 50 anos, que teve vários problemas de
saúde, fez radioterapia, nunca pode ir ao dentista por falta de condições
económicas. Tinha uma infeção, tratamos dos dentes do lado esquerdo. Queria
receitar paracetamol e disse-me que não valia a pena porque não conseguia
pagar".
Para a médica dentista, faz todo
o sentido alargar, no futuro, esta oferta a toda a população. "É preciso
integrar mais médicos dentistas. Se isso se conseguir fico muito contente. Não
são só os pacientes de risco que precisam de cuidados. É toda a
população", afirma.
Ana Maia
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