Na saúde oral dos mais jovens,
Portugal está no bom caminho, apesar de ainda haver muito trabalho a fazer. Os
números são expressivos: se no início deste século apenas 33% das crianças com
seis anos estavam livres de cáries, em 2013 mais de metade (54%) já se
encontravam nesta situação. Uma evolução semelhante à observada nas crianças de
12 anos: nesse ano, 53% nunca tinham tido cárie dentária. À medida que a idade
avança, a situação não é tão positiva – aos 18 anos, só um terço (32,4%) dos
jovens nunca tinham tido lesões de cáries – mas este agravamento é expectável à
medida que a idade avança.
São dados do “III Estudo
Nacional de Prevalência das Doenças Orais 6, 12 e 18 anos” a que o PÚBLICO teve
acesso e que esta sexta-feira vai ser divulgado numa cerimónia para assinalar o
Dia Mundial da Saúde Oral. Elaborado pela Direcção-Geral da Saúde em parceria
com a Ordem dos Médicos Dentistas (OMD), o estudo permite perceber que, além de
estar a diminuir o número de crianças e jovens com cáries, os hábitos básicos de
higiene oral nas crianças e jovens estão a melhora: enquanto aos seis anos 79%
das crianças diz escovar os dentes todos os dias, aos 12 são quase 90% os que
garantem fazê-lo e, aos 18, a percentagem sobe para 96%.
“Todos os indicadores
melhoraram. Passamos para uma situação em que o nível de cárie dentária já é
muito razoável em relação à média europeia”, comenta Paulo Melo, um dos autores
do estudo e secretário-geral da OMD. A evolução foi, de facto, significativa, a
crer nos dados deste estudo: nas crianças de seis anos, entre 2000 e 2013 o
número de cáries dentárias diminuiu 21%. Mas a redução das cáries não é a única
boa notícia que emerge deste trabalho. Também é favorável a evolução da situação
dos dentes tratados e da quantidade de dentes perdidos e esta melhoria é
transversal a todas as regiões do país.
Ao longo do período referido,
aos 12 anos a média de dentes cariados por pessoa baixou 50%, enquanto a média
de dentes tratados aumentou cerca de 15%, o que significa que dois em cada três
dentes cariados estão tratados, sublinha ainda a OMD. Os níveis de doença são
medidos através de um índice médio por pessoa que contabiliza o número de dentes
cariados, obturados e extraídos (perdidos), o indicador que é utilizado pela
Organização Mundial de Saúde (OMS). Destaque merece o facto de que os resultados
deste índice aos 12 anos já terem ultrapassado as metas preconizadas pela OMS
para 2020. "Além de haver menos pessoas com cárie, há menos indivíduos com
lesões graves de cárie", sintetiza Paulo Melo.
A melhoria observada na
dentição permanente nas crianças e jovens com menos de 18 anos justifica-se em
grande parte devido ao Programa Nacional de Promoção de Saúde Oral (os chamados
cheques-dentista) que foi lançado em 2009 para estas faixas etárias. Este
programa permite que as crianças, mesmo as mais carenciadas, acedam a consultas
de medicina dentária onde, além do tratamento de eventuais lesões, colocam
selantes de fissuras nos dentes para prevenirem o aparecimento da doença e ainda
aprendem hábitos de higiene oral (escovar os dentes pelo menos duas vezes por
dia) e de alimentação saudável.
Paulo Melo está optimista,
porque acredita que a aposta na prevenção e no tratamento precoce se vai
traduzir “em enormes ganhos no futuro”. "Seguramente que não vamos ter, daqui a
30 ou 40 anos, um número de idosos desdentados tão elevado como temos agora”,
antecipa. De acordo com os resultados do barómetro apresentado em 2014, cerca de
7% dos portugueses não têm um único dente.
O secretário-geral da OMD
lembra também que ainda há um caminho a percorrer para se atingirem as metas
traçadas pela OMS para 2020, em especial na primeira infância, na dentição
temporária (os chamados dentes de leite). “É preciso reduzir a percentagem das
crianças que chegam aos seis anos sem cáries. Aqui, ainda há algum trabalho a
fazer, mas tem que ser feito pelos pais e pelas famílias”, acentua.
As crianças e jovens são os
principais utilizadores do programa cheque-dentista, que abrange também os
idosos com o complemento solidário, as grávidas e os portadores de VIH. No ano
passado, a taxa de utilização dos cheques-dentista subiu para 74%, tendo sido
utilizados no total 406.689. Sessenta por cento foram usados em procedimentos
preventivos, na aplicação de selantes de fissuras. No total, foram tratadas
4.334.877 de cáries contra apenas 207.239 extracções de dentes, refere a OMD.
Desde o início deste programa, já foram utilizados 2.378.363 de cheques.
Alexandra Campos
Sem comentários:
Enviar um comentário