"Portugueses devem prevenir
doenças", diz Ministério – O secretário de Estado da Saúde, Fernando Leal
da Costa, considera que os portugueses têm a obrigação de contribuir para a
sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS), prevenindo doenças e
recorrendo menos aos serviços. "Se nós, cada um dos cidadãos, não fizermos
qualquer coisa para reduzir o potencial de um dia sermos doentes, por mais
impostos que possamos cobrar aos cidadãos, o SNS será, mais tarde ou mais cedo,
insustentável", afirmou Fernando Leal da Costa, em entrevista à agência
Lusa.
Frisando que a manutenção do SNS
é indiscutível para o Governo, o secretário de Estado Adjunto do Ministro da
Saúde diz que "não basta" cobrar impostos e que é necessário que os
cidadãos comecem a ter uma atitude de prevenção de doenças para que não
precisem tanto dos serviços de saúde.
O bastonário da Ordem dos Médicos
salienta que a prevenção de doenças é um papel do próprio Governo, que
aconselhou os portugueses a evitarem as idas aos hospitais públicos. «É
evidente que se pode fazer mais pela prevenção a nível das responsabilidades
governativas, nomeadamente insistindo mais na educação para a saúde e na
prevenção da doença nas escolas, corrigindo e estimulando os estilos de vida»,
afirmou à TSF.
José Manuel Silva entende que não
são apenas os utentes a conseguir prevenir as suas doenças. «Também usando a
fiscalidade para orientar os cidadãos no sentido de optarem por alimentação e
estilos de vida mais saudáveis», concluiu, em reação às declarações do
secretário de Estado da Saúde.
* * *
Hoje ficou claramente patente a existência
de lobbies (grupo de pessoas envolvidas na tentativa de influenciar
legisladores ou outros agentes públicos em favor de uma causa específica) com o
intuito de transformar o Serviço Nacional de Saúde num serviço oneroso para os
cidadãos, independentemente dos impostos obrigatórios impostos pelo poder
político e da redução dos salários. Assim, perante a forte contração dos
rendimentos disponíveis, o poder político segue a política inversa preconizada
pelos fundadores do Serviço Nacional de Saúde, tornando os cuidados médicos
cada vez menos acessíveis à população em geral, apoiado pelo próprio bastonário
dos médicos. Está aberta a privatização da saúde em Portugal; os grandes grupos
económicos têm agora a possibilidade de concorrer com o Serviço Nacional de
Saúde: o governo apoia e o bastonário dos médicos dá uma ajuda na iniciativa.
No âmbito da saúde oral, o Saúde Oral tem sistematicamente sensibilizado as diversas entidades para a constante degradação
da acessibilidade da maior parte da população, nomeadamente das classes sociais
mais desfavorecidas e das faixas etárias mais frágeis, designadamente da
infância, adolescência e idosos. As postagens 535 (ler aqui) e 536 (ler aqui)
foram remetidas ao Ministério da Saúde; a análise detalhada das várias soluções
propostas para a deficiente saúde oral dos portugueses poderiam ser o ponto de partida para
alterar o atual pântano na prestação de cuidados de medicina dentária em
Portugal. Infelizmente, o Ministério da Saúde não respondeu ao ofício até hoje;
simples medidas poderiam reduzir para metade os custos indispensáveis à
prestação de cuidados de saúde oral.
Infelizmente, o atual governo
segue a mesma linha de atuação do anterior governo, preferindo que os
portugueses continuem a gastar valores exorbitantes para terem acesso a
cuidados de saúde oral; quando o Secretário de Estado da Saúde fala na
importância da prevenção de doenças (afinal, aonde está o Boletim Individual de
Saúde Oral para todas as crianças e adolescentes portugueses?), é bom lembrar
que o seu governo dá o pior exemplo dessa pratica quando recorre a cortes de cuidados
de saúde oral infantil para transferir dinheiro para os grandes grupos
financeiros da banca mundial. O Ministério da Saúde segue uma política
moribunda, consoante os interesses dos grupos económicos privados e da banca,
espezinhando os direitos fundamentais da Declaração dos Direitos das Crianças,
retificada por Portugal, atos meramente cobardes quando os especialistas sabem
que investindo 100 euros em saúde oral traduz-se numa poupança de até 3 000
euros no futuro.
Já tivemos um antigo Ministro da
Saúde Correia de Campos adepto do uso de escovas de dentes para combater as
doenças infecto-contagiosas (cárie dentária); já tivemos uma alta responsável da
Direção Regional de Educação de Lisboa e do Vale do Tejo a recomendar o consumo
de frutas para combater as doenças infecto-contagiosas (cárie dentária); agora
temos um Secretário de Estado da Saúde que pede aos portugueses para não utilizarem tanto os serviços de saúde (como se cada um de nós pudesse escolher quando ficamos doentes).
Senhor Secretário de Estado da Saúde:
coloque o cargo que ocupa à disposição de quem consiga fazer muito mais pelos
portugueses com menos dinheiro.