As doenças orais na infância e na adolescência (1ª Parte)
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O Estudo Nacional de Prevalência da Doenças Orais 2008 identifica a cárie dentária e as doenças periodentais nas crianças e jovens portugueses, a que se vem juntar a fluorose em determinadas áreas geográficas.
O cálculo dos índices de cárie dentária permitiu verificar que o seu valor cresce à medida que aumenta a idade das crianças e jovens, o que pode supor uma condição associada a um desleixo da saúde oral à medida que as crianças e os jovens crescem e/ou a uma maior atenção da saúde oral das crianças quando estas são mais pequenas. Não nos podemos esquecer as mudanças do meio que as crianças e os jovens vão tendo à medida que vão crescendo, o que poderá também contribuir para a evolução atrás referida. Estarão os jardins-de-infância e os estabelecimentos escolares do primeiro ciclo mais aptos em apoiar e ajudar de uma melhor forma e mais consistentes do que os outros níveis superiores de ensino? Se sim, porque será?
Cárie dentária aos 6 anos de idade - Muito preocupante é a discrepância registada entre as várias regiões do país: “Na dentição temporária, a Madeira, com um índice cpod de 3,61, apresentava a maior prevalência de doença, sendo a diferença, estatisticamente significativa face à média nacional. Na dentição permanente, os Açores, tinham um índice CPOD de 0,24, que era triplo da média nacional. As regiões do Centro (0,02), de Lisboa e Vale do Tejo e do Algarve (0,03) apresentavam os valores mais baixos; estas variações são estatisticamente significativas. (…) Por regiões de saúde a percentagem de dentes temporários cariados (aos seis anos de idade) era muito elevada, variando entre 83% no Alentejo e Açores e 94% em Lisboa e Vale do Tejo.”
Estes contrastes evidenciam claramente a falta de oportunidade de acesso à saúde oral em grande parte do território nacional, constituindo uma gravíssima injustiça praticada sobre as crianças que vivem em zonas desfavorecidas; por outras palavras, na saúde oral prova-se a discriminação feita em benefício das regiões mais ricas, prejudicando sempre as regiões mais pobres (lógica absurda se pretendermos falar em coesão nacional, pois são as crianças que vivem nas regiões mais desfavorecidas que têm menos garantias de saúde oral).
Cárie dentária aos 12 anos de idade – Neste estudo apurou-se que, aos 12 anos de idade, “as regiões do Alentejo, do Norte e dos Açores, como as que apresentam grupos de jovens com índices de cárie dentária mais elevados”. São também o Alentejo e os Açores onde há jovens com menos dentes tratados. Assim, o estudo realizado permite concluir que as cáries dentárias incidem com mais frequência nos jovens que não têm os dentes tratados.
Note-se que o estudo salienta que estas variações são significativas, tendo em conta a média nacional; quer isto dizer que há disparidades regionais significativas no país e que, como tal, a residência geográfica dos jovens de 12 anos de idade determina directamente a sua saúde oral.
Obviamente existirão factores culturais intrínsecos às famílias que determinam a importância dada aos cuidados de saúde oral das crianças até aos 12 anos de idade, mas os significativos contrastes identificados entre as diferentes regiões também terão a haver, em grande medida, com as políticas ignóbeis de saúde seguidas pelo país ao longo das últimas décadas e que contribuíram para o acentuar da descriminação das regiões mais periféricas.
Urge, pois, implementar com urgência a transferência de meios e de recursos públicos para aonde hoje existem tantas carências; compete aos organismos públicos aplicar políticas que incentivem entidades e profissionais de saúde oral a fixarem-se junto dos que mais necessitam; enquanto não surgirem essas políticas, as crianças que hoje vivem no Alentejo e nos Açores encontram-se muito mais desprotegidas e sem as mesmas condições de acesso a cuidados de saúde oral que existem noutras regiões do país; naturalmente, este facto trará consequências incalculáveis que se irão prolongar por toda a vida destas crianças.
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