Renomado médico dentista é o
consultor científico na área da medicina dentária das clínicas Dr. Well’s. Uma
conversa sobre o atual momento da saúde dentária em Portugal e sobre a
importância da sua democratização.
Nos dias que
correm, como explicaria a importância da saúde oral na vida de qualquer pessoa?
Eu sempre tive
alguma dificuldade em compreender porque é que para tantas pessoas, a boca não
é parte do corpo… digo isto em tom de brincadeira porque obviamente é. A saúde
oral é indissociável da saúde geral e, para além disso, é indissociável da
nossa felicidade sendo que o sorriso é a expressão máxima dela. Acredito que a
consciencialização da população portuguesa para este problema está cada vez
melhor, e naturalmente, qualquer coisa que ponha as pessoas a lavar bem os
dentes é bom para a população. Obviamente que em termos de saúde ela é
profundamente importante, mas não podemos esquecer-nos da estética, um sorriso
agradável pode mudar a perceção dos outros sobre nós e pode aumentar a
autoestima de forma exponencial, por isso, eu sou um apaixonado desta matéria.
Um dos pilares
da sua parceria com a Dr. Well’s, na qualidade de consultor científico na área
da medicina dentária, é a democratização do acesso aos cuidados de saúde oral.
Explique-me um pouco melhor o que está por detrás deste conceito?
A Dr. Well’s
nasceu com o objetivo de democratizar o acesso a serviços de saúde de
qualidade. E sabendo que apenas 5 em cada 100 portugueses têm oportunidade de
colocar um implante dentário, vem demonstrar que há mais que nós, médicos
dentistas, pudemos fazer no setor da medicina dentária.
Como está a
saúde da boca e dentes dos portugueses?
A saúde da boca
dos portugueses deve ser vista por segmentos. Eu diria que a das crianças está
ótima, porque felizmente os pais já aprenderam e têm mais preocupação em lavar
os dentes das crianças, o que é ótimo porque as gerações futuras terão mais
saúde oral. Obviamente, o mesmo não pode ser dito das pessoas entre os 60 e os
100 anos de idade porque, infelizmente, viveram numa era onde não havia muitos
dentistas qualificados no país e consequentemente há uma enorme percentagem
deles desdentados e sem capacidade económica para sequer pensar em reabilitar o
seu sorriso. Entre estes dois segmentos da população, há um pouco de tudo,
dependendo da capacidade económica e nível de educação. Obviamente que não se
pode generalizar, porque tenho experiência de pessoas bem formadas e com
capacidade económica que tiveram o azar de não ser bem seguidos pelo seu
dentista e têm que acabar por fazer tratamentos muito dispendiosos e demorados
para recuperar o seu sorriso.
Se fosse
ministro da Saúde, quais as primeiras medidas que tomaria na área da saúde oral
no país?
Se eu fosse
ministro da saúde iria em primeiro lugar dar a volta ao país para ouvir os
profissionais e técnicos de saúde, de norte a sul, para tentar compreender as
dificuldades que eles têm. Não obstante, penso que em termos de medicina
dentária iria pôr um programa obrigatório escolar, um pouco parecido com aquilo
que se faz nos países nórdicos, e ter a certeza que a população, principalmente
a mais carenciada, faz consultas regulares de higiene oral e rastreio de cáries
e tratamento atempado. Sempre achei estranho que os nossos impostos não são
aplicados nesta vertente da medicina dentária mais simples e entendo que é algo
que deve ser um direito dos cidadãos.
E a medicina
estética: é um ramo que definitivamente entrou no dia a dia das pessoas ou
ainda é algo reservado apenas a quem tem meios para isso?
A medicina
dentária é das poucas áreas médicas que tem um ‘crossover’ absoluto entre
estética e saúde. Eu costumo dizer que um sorriso bonito é o reflexo ou espelho
de um sorriso saudável. Portanto, o primeiro passo para ter um sorriso estético
e bonito, é tê-lo saudável. Como tal, as pessoas não podem esperar resultados
estéticos incríveis se não têm a parte funcional e biológica sã.