Descoordenação nacional
Outro dos problemas apontados resume-se numa palavra: descoordenação. A saúde dentária tem sido maltratada em Portugal e embora muitos responsáveis reconheçam melhorias, «ainda há um longo trabalho pela frente», como não esquece Manuel Fontes de Carvalho.
Em matéria de trabalho de campo, o país vive num limbo, pautando-se pelas iniciativas locais, as quais pecam por serem esporádicas e sem perspectivas de longo prazo. «É necessário concertar o trabalho feito por todos para que não haja sobreposição de actividades», começa por sugerir Manuel Fontes de Carvalho. «Lá fora, o voluntariado está sedeado em instituições onde as pessoas se dirigem para prestar ajuda. Em Itália, por exemplo, existem duas organizações dentárias, em Espanha há um grupo que está, neste momento, em África. Em Portugal, está tudo disperso», desabafa o presidente da ADL, que admite chegar a incorrer nesse erro quando, por iniciativa própria, e sem nenhum plano nacional perfeitamente estruturado, monta, juntamente com os seus alunos, um consultório «no meio da rua, para ensinar a população algumas regras básicas de saúde dentária».
Embora seja uma iniciativa «louvável», frisa, «não produz efeitos a longo prazo». Pode-se, então, afirmar que o panorama da saúde oral, em Portugal, é o resultado de décadas sem educação cadenciada. «Só poderemos ultrapassar estes problemas se tivermos um plano a nível nacional. O que o Governo implementa no terreno [Programa de Promoção de Saúde Oral nos Adolescentes] tem sido importante e dará os seus resultados», garante o ex-bastonário, mas não chega e, até nas palavras de Cassiano Scapini, «não produz efeitos visíveis».
Ainda que reconhecendo a falta de organização existente no trabalho de intervenção comunitária, o presidente da Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária (SPEMD) acredita que esta é, também, a explicação para a falta de números a nível nacional. «Há muito mais voluntários do que pensamos, mas como não estão registados, não temos maneira de os contabilizar. Essa é, aliás, uma das características do voluntariado: a ausência de promoção pessoal».
Além das iniciativas conhecidas do público, os responsáveis acreditam que «um número incontável de médicos dentistas» são voluntários dentro do seu consultório. «Por vezes, o que acontece é que uma escola contacta determinada clínica para ajudar em certos casos ou fazer uma campanha. Há, ainda, faculdades que percorrem uma região em trabalho de prevenção mas, depois, já não voltam lá. Acaba tudo por ser resultado de um impulso imediato», atira Manuel Fontes de Carvalho.
A solução, sugere o presidente da ADL, é que seja o Ministério da Saúde a liderar este trabalho, porque, avisa, «estamos a gastar dinheiro e não temos depois resultados a longo prazo, nem dados epidemiológicos concretos». O cerne do problema mantém-se. «Existem projectos vastos que precisam muito de voluntariado e ainda não sentimos que haja uma grande disponibilidade por parte das pessoas», frisa Manuel Fontes de Carvalho.