De acordo com os dados divulgados no Congresso da Ordem dos Médicos
Dentistas, 8,3% dos inquiridos nunca foi ao dentista e 21,2% diz que só
vai quando tem um problema dentário, uma urgência ou dor. Dos mais de
mil entrevistados, 20,9% revelaram ter diminuído o número de visitas ao
dentista no último ano, com a questão monetária "a ser o principal
motivo evocado para não ir".
São menos de um quarto os portugueses que indicam ir ao dentista duas ou mais vezes por ano, enquanto cerca de metade (48,8%) dos portugueses afirma realizar um 'check-up dentário' menos de uma vez por ano. Dos
inquiridos, 51,5% acreditam que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) não
disponibiliza serviços de medicina dentária e apenas 10,2% já recorreram
a unidades públicas quando precisam de serviços de saúde oral.
Num
comentário a estes resultados, o bastonário da Ordem dos Médicos
Dentistas considerou que Portugal "precisa de trabalhar no acesso dos
portugueses ao médico dentista", criando "mecanismos que ajudem as
pessoas a poder" tratar da saúde oral. "Não há em Portugal possibilidade
de a generalidade da população fazer um acompanhamento adequado da
saúde. O país já tinha um problema de acessibilidade, porque o SNS nunca
deu resposta a esta área. Como não há mecanismo que comparticipe ou
ajude os portugueses à consulta regular, os portugueses pagam do seu
bolso estas consultas. E com a crise económica é afectada a capacidade
da população que tinha acesso ao dentista", resumiu Monteiro da Silva.
As
conclusões do primeiro Barómetro Nacional de Saúde Oral mostram ainda
que 70% dos portugueses têm falta de dentes naturais, sendo que mais de
20% tem falta de pelo menos 10 dentes e 7% da população portuguesa não
tem qualquer dente natural. O
barómetro revela também que "56,1% dos portugueses que têm falta de
dentes naturais não têm nada a substituí-los". Apenas 7,7% têm dentes
substitutos fixos, sendo que os restantes 36,2% possuem prótese. "Metade
dos inquiridos admite que já sentiu dificuldades em comer e/ou beber
devido a problemas na boca e nos dentes e 18% confessa que já se sentiu
envergonhado por causa da aparência dos seus dentes", constatam..
Sobre
os hábitos de sáude oral, o estudo revela que os portugueses cumprem o
básico "mas poucos têm hábitos mais sofisticados". "Se 97,3% afirma ter
por hábito escovar os dentes, contudo, 54,4% não usa elixir e 76,2%
admite não usar fio dentário. Dos que escovam os dentes, 72,7% fazem-no
duas ou mais vezes por dia", especifica o documento.
Os
resultados do barómetro também permitem concluir que "as mulheres
apresentam taxas de hábitos de higiene e limpeza superiores aos homens".
"A falta de dentes naturais,
com exceção dos dentes do siso, está correlacionada com o hábito de
escovar os dentes, na medida em que quantos menos dentes naturais possui
quem respondeu, menores são os seus hábitos de higiene", lê-se no
comunicado com as conclusões.
O
inquérito revela ainda que os portugueses (93,5%) estão satisfeitos ou
muito satisfetios com o seu médico dentista. "De sublinhar que 63,7%
dos portugueses nunca mudaram de médico dentista. Os principais factores
de fidelização são a confiança no médico dentista, a qualidade nos
serviços prestados e a habituação", adianta o documento que sublinha
ainda que a maioria dos
portugueses (64,5%) esclarece as suas dúvidas de saúde oral junto do seu
médico dentista, em prejuízo de outros meios, como a internet.
O primeiro barómetro nacional de saúde oral foi feito tendo por base 1102 entrevistas presenciais, tendo validade estatística.
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É muito urgente que seja definida
uma estratégia nacional no âmbito da saúde oral e da medicina dentária. Enquanto as organizações ligadas à
saúde oral persistirem inocuamente em querer trabalhar sem cooperar colectivamente
com todas as restantes entidades, a saúde oral dos portugueses vai-se degradando
e são sempre as classes sociais menos favorecidas que pagam os erros dos
dirigentes incapazes de dar as necessárias respostas à população.
Para quando uma verdadeira união
de vontades entre os médicos de medicina oral, os higienistas orais e os estomatologistas,
tanto do sector público como do sector privado, para fazer face à ausência de
uma estratégia de saúde oral no nosso país?
Basta de tanta hipocrisia: enquanto
alguns sectores da medicina dentária ficam satisfeitos com algumas benesses dadas
pelo poder político, os serviços de saúde oral continuam a ser negados à maior
parte da população.