Acredito que todos os dentistas já devem alguma vez ter ouvido a frase "a OMS recomenda a proporção de 1 dentista para cada
1.500 habitantes". Mas o que ela quer dizer com isso? Que se a
proporção 1:9.000 é ruim, então a proporção 1: 167 é boa? Não faz muito
sentido.
Paulo Capel Narvai escreveu um
artigo para o Jornal do Site dizendo que este dado seria uma lenda. Uma espécie
de hoax que teria se iniciado antes mesmo da popularização da internet. Diz
ele:
"Não basta para o enfrentamento
da atual política de formação de recursos humanos em saúde — aí incluídos os
recursos humanos odontológicos —, a enfadonha citação de que "a Organização Mundial da Saúde recomenda 1 dentista
para 1.500 habitantes." (Há variantes como 1/1.000 ou 1/2.000). Há pelo menos dois erros nisso: em primeiro lugar, a OMS
não recomenda coisa alguma. Em algum momento alguém deve ter lido mal
em algum lugar, citou erroneamente a OMS e, a partir daí, tem havido uma
repetição mecânica e acrítica dessa proporção. Jamais encontrei a referência
bibliográfica nos artigos que mencionam a tal proporção. Nos documentos da OMS,
aos quais tive acesso, nunca li nada sobre o assunto. Até que algum pesquisador
desvende esse mistério, pode-se concluir que
trata-se de pura lenda".
Confesso que há muito tempo não
tenho sossego, procurando as origens da lenda, pois encontrei publicações até de
1979 com essa informação. Até que me bateu a ideia de procurar onde a coisa
começou (ou não) : a própria OMS.
Achei um comunicado da
organização que esclarece a coisa toda:
"A Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização
Pan-americana da Saúde (OPAS) não recomendam nem estabelecem taxas ideais de
número de leitos por habitante a serem seguidas e cumpridas por seus
países-membros. Tampouco definem e recomendam o número
desejável de médicos, enfermeiros e dentistas por habitante. Não existe,
ainda, orientação sobre a duração ideal das consultas médicas ou um número
desejável de pacientes atendidos por hora." Grifo meu.
Então, como tudo
aconteceu?
No longínquo ano de 1972
ocorreu a III Reunião Especial de Ministros de Saúde das Américas, que resultou
no Plano Decenal de Saúde para as Américas. Os ministros ali reunidos combinaram
a meta de alcançar "8 médicos, 2 odontólogos, 4,5 enfermeiros e 14,5 auxiliares
de enfermaria para cada 10.000 habitantes". Só isso. E o valor nem corresponde à
versão consagrada na literaura...
O documento é fruto de um
evento da OPAS-OMS, mas não é uma resolução oficial da organização, que diria
quanto dentistas deveriam existir pra cada tantos mil habitantes.
Ate porque, em 1972 a realidade
era outra, não é? Bem aqui um artigo do Vitor Pinto de 1983, que não me deixa
mentir.